top of page

Testemunho terceiro

coroa_edited_edited.jpg

O osso da minha testa havia sido retirado devido à osteomielite, a pele se retraíra fazendo-me submeter a 10 sessões de estiramento de pele por meio de enchimento de balão subcutâneo preparando-a assim para colocação da prótese óssea na que seria a última cirurgia. 

A dor a cada inoculação de soro fisiológico chegava a se igualar a de um pós-operatório. Vi naquilo oportunidade especial de aprender a oferecer minha dor a Cristo e estreitar minha união com ele. E Jesus me conduziu de forma tão graciosa.

***

No dia da última inoculação estava há três semanas sem realizar o procedimento semanal dado o recesso médico de final de ano. Em função disto me encontrava bastante tensa e amedrontada com a dor que sentiria.

O médico fez os preparativos de rotina, senti a picada da agulha e ao perceber que começava a inserir o líquido clamei internamente por Jesus. Queria que estivesse comigo.

À medida que a seringa era esvaziada aumentava a pressão no couro cabeludo até que comecei a sentir dor e, a partir daí, nenhuma dor mais até o final do procedimento e nas 24h que se seguiram.

Jesus livrava-me de toda dor. Concedia-me uma grande graça, especial, única.

A primeira coisa que pensei foi que se assim havia feito era para que eu o testemunhasse.

***

No dia da cirurgia (a 9°) para colocação da prótese na testa estava calma, resignada e aberta àquilo que Deus tivesse para ser por mim vivido*. Porém estava com medo de sofrer muito dadas as cirurgias anteriores.

Havia planejado oferecer a Jesus a dor da minha carne com amor de modo a honrar com seus sofrimentos por todos nós e para que salvasse almas. 

Ao despertar da anestesia no CTI não havia dor alguma na cabeça, apenas a da sonda urinária e o incômodo do dreno na cabeça e do equipamento de respiração nas narinas.

 

Jesus me surpreendia livrando-me de toda dor na cabeça (existente nas outras vezes ainda que medicada).

Grande era sua glória e seu poder. Eu havia lhe oferecido puríssimas intenções e ele me surpreendia dando-me aquilo que jamais pediria.

O que fazer então a não ser contemplá-lo e louvá-lo agradecendo por tudo que era e permitindo que todo amor que sentia por ele transbordasse do meu coração...

Disse a ele que havia prometido oferecer minha dor daquela última cirurgia em uma coroa que reuniria todas as dores anteriores referentes às 10 sessões de extensão da pele da cabeça. Elevaria esta coroa entregando a ele, mas como não havia dor alguma, como oferecê-la?

Ocorreu-me de oferecer em seu lugar uma coroa e visualizei-a rodeada de pequenas e espaçadas pérolas manchadas de pontos escuros que (soube) representar cada um dos atos que havia praticado para ele no último ano. Estavam manchadas porque ao servir Jesus vivi minhas próprias miserabilidades que iam como que impressas em cada uma das minhas entregas e atos de amor e obediência.

Eis que sobrevieram as mãos de Nossa Senhora e entreguei a ela para que a purificasse entregando-a nas mãos de seu Filho**.

Lágrimas escorriam abundantemente dos meus olhos físicos. De olhos fechados via espiritualmente um ambiente completamente tomado pela luz dourada, que era ele. Ao seu lado havia uma luz branca azulada que era Nossa Senhora. Eu me encontrava espiritualmente curvada com a testa no chão e deitei-me lateralmente. Sentia tanto ardor e amor brotando de mim e havia tanto êxtase em minha alma, gratidão e louvor que eu era deles por toda minha vida.

Da mesma forma que escorriam lágrimas dos meus olhos físicos, escorriam dos meus olhos espirituais e estas formaram uma poça no chão daquele ambiente completamente tomado pela luz dourada. Com uma de minhas mãos desenhei uma larga cruz com minhas lágrimas, significando que os serviria ainda que na dor para todo o sempre.

 

Permaneci espiritualmente deitada naquele ambiente dourado durante os primeiros dias da internação. No seu final encontrava-me em pé diante de ambas as luzes e somente quando retornei ao lar vi nesta imagem as duas luzes subindo e a coloração ao redor se acinzentando quando me vi, de pé e de costas para mim mesma, diante de uma cidade com prédios.

***

Desde o despertar no CTI não necessitei de nenhuma medicação para dor o que seguiu até o dia da alta.

Coloquei-me à disposição do Senhor para oferecer este testemunho do seu poder às pessoas. Mas a quem? Sabia que não eram todas que estariam prontas para receber e não dariam o devido valor. Então não seria eu quem as escolheria. Abandonei esta questão inteiramente aos seus cuidados e ele não tardou a trazer almas para escutar.

Nesta altura da minha união com Cristo já não desejava nada para mim além da sua glória. Não desejava atrair olhares para mim, mas para ele e me coloquei inteiramente à disposição.  Meu único desejo era que as mesmas não olhassem para mim como uma “preferida de Deus”, mas que compreendessem que esta graça estava inserida em toda uma caminhada de devoção, entrega e união a ele. Meu único desejo era de voltar as almas para ele para que enxergassem a ele, buscassem a ele e vissem a mim apenas como alguém que havia se aberto e estava permitindo que ele entrasse e reinasse. Eu lhe pedia isso em oração e existia apenas para lhe dar glória.

Nota de rodapé:

*Dois dias antes da cirurgia a esposa de um amigo a quem vinha testemunhando, evangelizando e entregando nos braços de Nossa Senhora nas minhas orações disse ter sonhado comigo e que eu estava bem e diante de nós havia uma luz. Eu lhe disse que era Nossa Senhora e esta lhe pediu que lesse o Salmo 100, o qual transcrevo:

“Celebrai com júbilo ao Senhor, todas as terras.

Servi ao Senhor com alegria; e entrai diante dele com canto.
Sabei que o Senhor é Deus; foi ele que nos fez, e não nós a nós mesmos; somos povo seu e

ovelhas do seu pasto.

Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome.

Porque o Senhor é bom, e eterna a sua misericórdia; e a sua verdade dura de geração em geração.

(Salmo 100)

**Havia lido tempos antes no Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem que quando aceitamos Nossa Senhora como intercessora e intermediadora nossa junto a Cristo e lhe oferecemos nossos feitos ainda que manchados de impurezas, ela os purifica para então entregá-los nas mãos de seu Filho, Nosso Senhor.

(Do livro Renascimento e Vida em Cristo)

bottom of page