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Abaixo

alguns capítulos:

PARTE I

RENASCIMENTO EM CRISTO

O início de tudo

​​Sou casada e mãe de dois filhos, um de cinco e o outro de um ano.  Quatro anos atrás retirara um tumor na meninge que deu sequência a outras quatro cirurgias num espaço um pouco maior que um ano para fechar um pequeno buraco (fístula) que insistia em abrir no alto da minha testa. Isto acontecia porque um líquido interno amolecia a pele para depois rompê-la. O médico dizia não haver motivo para tanto uma vez que os exames não acusavam inflamação ou infecção.

Foram aqueles primeiros anos dificílimos. Entrei em depressão e acabei encontrando uma terapia que me deu suporte psico-emocional para dar conta do que estava vivendo por meio do autoconhecimento e da abertura do olhar e da consciência para objetivos mais altos para minha vida. Havia uma condição espiritual por detrás da fístula, assim segui com minha vida buscando as transformações e reposicionamentos necessários, enquanto submetia-me ao Grande Tempo Deus.

No curso deste período adveio o forte chamado interior de me tornar terapeuta, difundindo, por minha vez, aos demais, os bens recebidos. Abri consultório, dei início aos trabalhos e tive meu segundo filho ainda que condicionada à situação da fístula. Transcorreram desta forma três anos sem que me submetesse a outra cirurgia.

Tratava diariamente a fístula com limpeza e curativo. Não havia dor física, apenas o desconforto diário de ter que me deparar com o quadro sucessivas vezes em frente ao espelho. Havia um pequeno buraco ósseo feito pelo médico na primeira cirurgia que dava acesso à parte interior do crânio e era possível ver tanto este quanto parte do osso amarelado exposto. Entretanto, o maior desconforto residia na angústia de estar ao mesmo submetida e sem saber até quando. 

Em três anos a pequena fístula cresceu para algo próximo a 1 cm o que passou a me incomodar seriamente. O pensamento que me mantinha afastada do hospital era o “de que adiantaria fazer uma sexta cirurgia se as anteriores não haviam resolvido o problema?”

Não tinha o hábito da oração, muito menos intimidade com o Senhor, mas acreditava em Deus. Recordo-me de numa noite ao deitar na cama ser invadida por forte angústia que me fez pedir para Jesus que me ajudasse a resolver aquela situação, pois, “não tinha forças para entrar no hospital pelas minhas próprias pernas” (meu segundo filho estava com 11 meses, era amamentado e não queria separar-me novamente de nenhum deles).

Eis que, em menos de uma semana, comecei a sentir dor dentro da cabeça e tive febre.

Chorei as angústias e incertezas e fui internada de urgência no hospital com quadro de osteomielite. Deu-se início a antibioticoterapia venosa e passei pela sexta cirurgia.

Só restava buscar a Deus

Diferente das vezes anteriores, desta vez entrei no hospital com uma certeza absoluta de que era Deus quem me curaria, pelo simples fato de que o médico havia feito a parte que lhe cabia tantas vezes e não havia adiantado. Tinha para mim que buscaria o tal Deus onde quer que ele estivesse, sem saber exatamente como, e como única saída. E então, com tempo de sobra, voltei-me inteiramente para Jesus a cada dia da internação.

 E ele foi realizando sua obra dentro de mim.

Estava submetida a antibiótico venoso com previsão de alta após 30 dias, quando continuaria o tratamento em casa. Mas, aproximando-se dessa data, a pele amoleceu e se rompeu.

Internada, longe dos meus filhos, esposo e afastada da minha vida - eu permaneceria ali, sem perspectiva de cura. Era evidente que o médico me reteria no hospital para tratamento e observação.

Eu buscava Jesus, estava dedicada a conhecê-lo e pedia aos Céus que me ensinassem a rezar e a ter fé. Foi gracioso ver como Jesus me enviou pessoas e, com elas, livros e coisas que me ajudavam na caminhada e em meu crescimento. Verdadeiras graças celestes eram me dadas diariamente - uma comprovação que acariciava meu coração de que Jesus estava cuidando de mim com muito carinho, mas diante de um fato inequívoco: eu estava sendo fiel a ele. Uma sintonia maravilhosa, nunca antes imaginada ou vivida.

Um dos livros que abriu meu coração de forma incrível ao conhecimento de Cristo, fazendo-me aproximar dele e dos seus interesses foi o "Repousando no Coração do Salvador" (Mensagens de Jesus recebidas por Anne, a apóstola leiga) que recebi por e-mail de uma amiga. Neste Jesus fala a uma beata norte-americana, conduzindo-a a mergulhar em seus sentimentos diante de inúmeras ocorrências individuais de nossa humanidade. Grandiosíssimo se mostrou para mim o seu coração.

Numa tarde, angustiada, fiz uma sincera oração a Jesus. Disse que ia lhe pedir uma coisa muito importante, mas que precisaria da sua ajuda para manter minha promessa posteriormente, pois sabia que seria muito difícil. Pedi-lhe que usasse o tempo que fosse necessário para realizar uma verdadeira transformação dentro de mim e que eu somente saísse do hospital quando estivesse completamente transformada nele.

Naquele momento, minha cura física se apresentou tão pequena e sem importância diante daquele “muito maior’’ que eu intuía e que, por isso mesmo, lhe pedia. Eu não sabia exatamente o que pedia, mas intuía que seria algo grandioso para mim. Confiava e por isso lhe pedia.

 

Uma questão de postura interna

Os dias passavam e a dor da separação dos meus dilacerava meu coração. Duas posturas as quais não me permiti nesta internação foram as de vítima e de me abandonar na depressão. Como vivera as cirurgias anteriores conjugadas à depressão havia comprovado o quanto esta não me ajudara em nada, pelo contrário, derrubara-me ainda mais.

Desta vez fiquei completamente sozinha no hospital. Minha mãe estava com meu bebê, meu outro filho com minha sogra e o esposo trabalhava viajando. Então quem me ajudaria caso eu me entregasse àquelas duas posturas?

Ademais, não queria embotar minha mente com medicação para depressão – preferia dispor dela na normalidade das suas faculdades. Com isto decidi firmar os pés no chão e buscar a Deus como única saída.

Encontro pessoal com Deus

Certo dia ao caminhar pelo corredor do hospital para evitar a trombose, orava e conversava com Deus sentindo a amargura da condição assolar meu coração.

Então o questionei: "Por que isto tudo está acontecendo comigo?". Lamentando a dureza da minha provação, voltei a perguntar: "Por que todos estão lá fora gozando suas vidas enquanto eu estou aqui presa neste hospital há semanas?”

Eis que naquele instante vi-me (forçosamente) diante de uma verdade inquestionável: a magnificência de Deus. Deus era tudo. Grandiosíssimo e poderosíssimo. E, ao mesmo tempo, reconheci minha pequeneza: eu era nada, apenas fruto de Sua Criação.

Pela primeira vez, num momento puramente sublime, ajoelhei-me e curvei-me espiritualmente “aos pés” de Deus diante de sua excelsa vontade. Reconheci-a para mim. Entreguei para ele, a fim de que fosse feita a vontade dele e não a minha. Foi um momento difícil.

Havia-me sido dito pouco tempo antes que "o tempo de Deus é diferente do nosso e que, enquanto temos pressa, ele tem para nós a perfeição”. Então, ainda que doesse, eu deveria compreender que a vontade de Deus, seus planos e os resultados que desejava para mim eram infinitamente maiores e melhores do que os meus para mim. Isso me colocou ela primeira vez numa posição de verdadeira submissão, obediência e confiança.

 

Entrega, descansa, confia e agradece

Jesus seguiu colocando-me diante de seus ensinamentos para que os fosse vivenciando.

No hospital há semanas com a fístula drenando, presa ao antibiótico venoso, afastada dos meus e sem perspectiva de alta ou horizonte de cura. Este era meu panorama existencial. Eu pensava o tempo todo, só fazia pensar:

“Reconheço a vontade de Deus para mim, mas mesmo assim é muito difícil. Revoltar? Não adianta. Ficar infeliz? Não resolve a situação. Morrer? Definitivamente não é a solução. Como obter algum alívio? Como suavizar a dor?  (se é que era possível?)”

Então alguém trouxe para mim as seguintes palavras:

“Entrega, descansa, confia e agradece.”

Originariamente, elas são assim:

Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e ele o fará.” (Salmo 37, 5)

Descansa no Senhor e espera nele.” (Salmo 37, 7)

Meditei por algum tempo sobre essas palavras que me pareciam um tesouro velado.

Então como única solução, entregaria meu grande problema para Jesus e depois ainda descansaria nele...

Quanto alívio este movimento interior me trouxe. A partir daquela hora eu não tinha mais que me desgastar tanto com minha situação porque ela agora estava com o Senhor e eu poderia finalmente descansar. Não me preocupar mais! Então me dei conta do quanto estava cansada, imensamente cansada de lutar, de pensar e de querer resolver. Mas nada daquilo, tudo o que eu tinha que fazer era, literalmente, descansar no colo acolhedor de Jesus...

E teria também de confiar e agradecer.

Tudo ia assim, gradativamente, acontecendo e mudando dentro de mim.

 

Deixai pai, mãe, filho, esposo, irmão... e siga-me

Numa certa altura, para reduzir a dor da perda e da separação dos meus aliada à falta de perspectiva de alta, vi-me obrigada a desligar-me emocionalmente dos filhos e esposo. Era necessário romper com aquele grau de dor para sobrevivência emocional. Juntamente com eles, decidi que havia chegado a hora de me desligar de todos os meus compromissos externos e da minha própria vida. Liguei para todas as pessoas que me aguardavam explicando-lhes o motivo pelo qual estaria ausente não sabendo por quanto tempo. Era doloroso, mas ético. E bem ali, sentada no leito do hospital com o olhar fixo na janela veio-me à mente:

"Deixai pai, mãe, filho, esposo, irmão e siga-me.” 

Naquele instante, forçosamente, a única opção que me restava era voltar-me exclusivamente para Jesus.

Compreendi internamente que todos da minha família na verdade não me pertenciam e estavam sendo temporariamente retirados para me mostrar que me eram emprestados. Nada daquilo eu realmente possuía.

***

Também todos aqueles que tiverem deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou terras, por causa de meu Nome, receberão cem vezes mais e herdarão a vida eterna.” (Mateus 19:29)

Jesus

Mais de 60 dias se passaram quando meu médico entrou no quarto dizendo que aguardava autorização do convênio para me operar novamente. Em minhas orações somente pedia a Jesus que me curasse e de preferência de forma milagrosa para não ter que passar novamente pela mesa de cirurgia. Levei um susto.  Não era fácil dispor da minha carne outra vez mais para ser operada e viver mais um pós-operatório. Isto sem mencionar a descrença na cura.

Segui até a capela do hospital para rezar e chorar em privacidade. Ajoelhada, disse:

“Jesus, eu não sei mais o que queres de mim. Eu já abri mão de tudo: família, esposo, filhos, casa e vida. Já não tenho mais nada na minha vida. O que mais queres de mim?”

Então escutei dentro de mim:

Você ainda não Me entregou o seu desejo de ser curada."

Nesta altura compreendi que eu já havia entregado tudo a Jesus, exceto minha vontade de ser curada.

“Mas como assim, Jesus?”. No hospital aprendi a conversar assim com Jesus, como se estivesse diante de um Grande e Bom Amigo. Continuei:

“Se eu Te entregar a minha vontade de ser curada, então não terei mais nada na vida. Porque isso é hoje tudo o que tenho.” 

Compreendi de imediato que me agarrava à minha cura como se fosse minha tábua de salvação, ou seja, se Deus me desse a cura teria toda minha vida de volta.

Mas Jesus queria que eu Lhe entregasse o meu desejo de ser curada. Momento difícil. Respirei fundo e fiz. Estava de olhos fechados.

Eis que, de súbito, perdi a sensação do chão tocando meus joelhos e tudo ao redor ficou preto. No breu, a única percepção que tinha era de existir sob forma de consciência e todas as referências do que era minha vida caíram por terra. Pensei:

“E agora? O que é que eu sou mesmo? Tudo que eu achava que antes era, não é mais, e ainda assim me percebo viva somente em estado de consciência...”

Eis que surgiram na minha frente duas mãos douradas. Sabia que eram de Jesus.

Dei-Lhe minhas mãos e Ele disse:

Entregue a Mim todas as suas vontades e deixa que Eu queira as coisas por você.

“Olhe para os seus pés.”

Ao voltar-me para meus pés, uma surpresa: eu não tinha pés. Era um ponto de luz branca.

Olhe para Mim.”

Ele era uma luz dourada diante de mim cujas mãos que saiam para fora seguravam nas minhas.

Durante todo momento Ele movimentava seus dedos polegares carinhosamente sobre minhas mãos - como que para eu discernir que aquilo não era imaginação.

Olhe para baixo.”

Voltei o olhar para baixo e outra surpresa: vi o planeta Terra.

Disse:

“Você é, na verdade, isso aqui que está vendo” (um ponto de luz no espaço diante Dele e nada mais).

Existe aquela também” (fez-me voltar os olhos para o planeta e tive a percepção de mim pisando na Terra enfrentando todas aquelas lutas).

Essa aqui é a verdadeira você e quero que você siga a Mim e Me divulgue para os demais”.

Suas últimas palavras me surpreenderam e senti medo e o pensamento que me ocorreu foi que aquilo mudava completamente minha forma de viver minha vida. Jesus era real e mudava TUDO. Tudo o que antes eu achava que era não era mais e eu deveria viver para Ele.

Minha alta aconteceu com 85 dias de internação e no dia do meu aniversário e eu soube intimamente que Jesus queria marcar o meu renascimento Nele para uma nova vida com Ele.

Este momento repercutiu seriamente dentro de mim quanto à figura de Jesus Cristo e da minha vida. Ele se mostrou real e isso me fez repensar meus problemas, questões e minha própria vida e ele ainda se colocou acima e prioritário a tudo.

Onde estão as outras pessoas, Senhor?

Na caminhada seguinte pelo corredor, entre orações e monólogos, perguntei-lhe: "Por que nós, na generalidade, não entramos em contato com pessoas que tiveram contato com o Senhor? Tenho certeza que estas pessoas existem e onde elas estão e por que não falam? Sei que não sou a única, então, cadê estas pessoas, Jesus?”

Ele então, tanto fiel quanto zeloso, trouxe nos dias que se seguiram, uma a uma - entre pacientes e acompanhantes, pessoas que haviam tido um momento com ele e/ou com Maria Santíssima totalizando cinco além de mim.

 

Minha cruz para Jesus

Recebi a notícia que minha cirurgia seria adiada por mais uma semana, o que totalizaria dez.

Ao realizar outra caminhada entre orações sentindo amargura no coração de saudades dos meus filhos, não suportei e me queixei para Jesus dizendo que estava doendo demais e difícil de dar conta.

Então veio-me à mente:

"Entregue sua cruz para Jesus.”

Estranhando, perguntei:

"Como assim lhe entregar a minha cruz? Como é que se faz isto? Eu nunca fiz isto antes...” Encontrava-me diante de algo novo, original e que, ao mesmo tempo, deveria ser algo bom, além de interessante.

Reuni toda minha dor e entreguei-a como num “grande pacote” ao Senhor dizendo:

"Aí está, Senhor, carrega para mim porque sinceramente não estou dando conta mais.”

Acabara de descobrir não apenas que tinha uma cruz, mas do que ela era constituída... e ainda a entregara ao Senhor! Como Jesus era bom e amigo...

O que se seguiu em mim foi uma sensação real de esvaziamento, alívio. Pensei:

"Bem, se agora não tenho mais toda aquela dor para carregar, o que vou fazer?”

A resposta:

“Simplesmente caminhe. Caminhe ao lado do Senhor enquanto ele carrega sua cruz para você.”

Fiquei desfrutando daquele estado interior.

***

No dia seguinte, despertei no leito do hospital com uma sensação grande de leveza, imensa paz, profundo sentimento de alegria, amor e (para minha surpresa) gratidão. Era maravilhoso. Compreendi como sendo a sensação de se estar em estado de graça. Pensei:

“Estranho... era para eu estar me sentindo diferente de como de fato estou, pois, sentir-me assim não combina com o fato de estar a tantos dias no hospital. Há algo diferente acontecendo, algo que desconheço e o que devo fazer então dos meus dias aqui?”

A resposta:

 "Agora que Jesus está se ocupando das suas coisas, você está livre para se ocupar das coisas dele.”

Jesus me ensinara a lhe entregar as minhas questões e conflitos, a aguardar e a confiar nele de tal modo que minha mente, tempo e coração estavam completamente livres para me dedicar inteiramente aos interesses dele. E tudo isso dentro de um hospital.

 

Seu Instrumento

Naquela altura, Jesus já trazia a mim pacientes e acompanhantes para receberem o testemunho, serem escutados e acolhidos.

Lembro-me da surpresa num certo dia ao dar-me conta de que possuía uma ‘agenda diária’ cheia com as ocupações do Cristo, entre demandas, compromissos, imprevistos e orações. Não sobrava tempo para mim ou para atender a tantos quanto gostaria. Era algo nunca antes vivido e eu chegava ao final do dia cansada, mas com o coração cheio de júbilo. Trabalhava para o Senhor e aquilo me deixava em estado de graça!

"Venham para mim todos vós que estais cansados de carregar o peso de seu fardo, e eu lhe darei descanso, carreguem minha carga, aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para suas vidas, porque meu jugo é suave, o meu peso é leve." (Mateus 11, 28).

Cheguei também a dar-me conta de que, ao mesmo tempo em que Jesus retirara de mim os meus familiares consanguíneos, me apresentara (forçosamente) minha verdadeira família fraternal: equipes do hospital, pacientes e acompanhantes - e ainda me colocara a serviço da mesma. Tudo com muita naturalidade e mansidão.

A riqueza de pacientes (mais de 20) e acompanhantes que passaram pelo meu quarto de enfermaria abriu meu coração de tal forma para a compaixão pela enfermidade e dor humana, e também para aceitar com naturalidade as diferenças pessoais, desconfortos e inconvenientes. Adquiri mais humildade e sentimento de igualdade e fraternidade.

Cada paciente que ali entrou trazido a mim pelas mãos de Deus ajudou-me de alguma forma e enriqueceu minha caminhada.

Nunca mais voltaria a ser a mesma de antes. Plano Perfeito de Deus.

Outro registro de grande importância é que eu estava a maior parte do tempo sem acompanhantes familiares e assim pude (forçosamente, mais uma vez) internalizar verdadeiramente em mim mesma dia após dia, aproximando-me de Cristo.

Por diversas vezes ainda me referirei ao Plano Perfeito de Deus que é infinitamente maior e melhor do que o meu para mim. Para tanto, ainda que na hora doa, aprendi que sempre poderia confiar no que ele deseja para mim.

Aproximação de Nossa Senhora

Uma paciente que dividia a enfermaria comigo acordou certa manhã dizendo que sonhara comigo a noite inteira e no sonho fora-lhe dito que eu “receberia as graças que tanto queria”. Achei aquilo tão belo e interessante, acolhi agradecendo, mas no fundo permaneci receosa, afinal havia cinco anos que pedia a Deus pela minha cura e nada.

Ela falou que o dia de Ação de Graças estava chegando e na sua alta estendeu-me carinhosamente seu pingente de Nossa Senhora das Graças. Eu não conhecia esta Santa Maria ainda que houvesse sido batizada e crismada. Era não-praticante.

Tão logo deixou o quarto me recordei de um livreto que alguém deixara ao lado do meu leito logo no início da minha internação e que nunca havia interessado em ler. Naquele instante tive certeza que se referia a Nossa Senhora das Graças.

Por certo. Tratava-se de suas aparições à Santa Catarina e da confecção da medalha milagrosa. No final, diversos testemunhos no Brasil de graças recebidas nas mais diversas áreas incluindo a saúde. Achei bonito, mas distante da minha realidade.

“Imagine eu, recebendo a cura de Maria?" - pensei. Depois compreendi que não o havia lido antes, pois não me encontrava pronta para receber seu conteúdo.

Mas a hora havia chegado. Voltei-me para ela e com toda reverência, amor e ardor a aceitei como minha Mãe. Entreguei para seu grandiosíssimo e puríssimo coração a mim, meus filhos e esposo e todas as angústias de mãe e de mulher que me assolavam.

Graças de Nossa Senhora

Após a cirurgia fui deixada no CTI sentindo muita dor na cabeça e da sonda urinária. Antevendo que passaria a noite em claro sentindo forte dor na cabeça ainda que medicada, tal como nas vezes anteriores, iniciei com fervor a “Ave Maria” e a dor era tamanha que não conseguia recordar das palavras seguintes, repetindo:

“Ave Maria, cheia de Graça; Ave Maria, cheia de Graça...”

Então enxerguei no alto do meu leito uma luminosidade e dela caindo sobre meu corpo pontinhos de luz azulado-branco-dourado. Fiquei encantada.

E lá estava Ela de pé ao meu lado esquerdo.

Tinha o véu azul claro com branco, cabelos castanhos e as mãos em posição de oração como que velando por mim deitada naquele leito. Disse:

"Eu sou a Mãe Santíssima.” (Não conhecia essa denominação de Nossa Senhora)

Detive-me a contemplar aquela maravilha. Então notei acima dos meus olhos, sobre a testa (local da cirurgia) um forte feixe de luz azul-branco que descia do alto. 

Maria disse:

Receba, Luciana, as graças dos Céus que lhe são devidas.”

Naquele estado de profundo júbilo, pensei:

“Que coisa maravilhosa! Posso então passar a noite inteira em oração sendo útil aos demais mesmo de um leito de hospital... Como Deus é Bom e Magnânimo…”

Comecei a orar e de repente dei-me conta de que era Dia de Ação de Graças (27 de novembro) e que Ela estava concedendo-me Graças.

Nossa Senhora em seguida mostrou o planeta e que Graças (pontinhos de luz azulado-branco-dourado) estavam naquele momento sendo derramadas em várias partes do mesmo. Eu ia agradecendo, pois sentia o quanto Ela era Generosíssima e Belíssima.

Ela disse:

Você alcançou essas graças e está curada. Muitos oraram por você. Perceba as orações que foram a Mim endereçadas em suas intenções.”

Eu as percebi e eram muitas mesmo. Chamou-me atenção a quantidade vinda de pessoas que eu conhecera naquele curto período de internação e com quem eu havia construído um laço de afeto e auxílio mútuo sob o Evangelho de Cristo.

Acrescentou:

Muitas almas desconhecidas foram salvas por meio das suas orações, quando você orou para que chegassem luz e graças aos que estavam no purgatório.”

Seguia com as visualizações contemplando-as em êxtase e imenso júbilo. Enquanto eu pedia pelas múltiplas necessidades humanas no planeta, Maria fez-me visualizar minhas orações alcançando naquele momento mulheres (muitas se despertando para não mais oferecerem seus corpos e sim os cobrirem) e homens (muitos se despertando para respeitarem as mulheres, freando em definitivo os abusos).

Disse:

Essas Graças são alcançadas por meio de oração.

Segui orando pelas crianças, mulheres grávidas, abortos, pessoas com depressão, enfermos, viciados, governantes... E pensei: “Se soubesse o quanto era importante, teria orado ainda mais nestes últimos dois meses e meio de hospital.”

Permaneci durante tanto tempo recebendo Graças que confesso que até me incomodou um pouco, pois chegou num ponto em que senti que estava recebendo além do que merecia. Minha percepção foi do quanto os Céus eram Pródigos e Generosos em dar-nos Graças. Comprovava quão Misericordiosos eram - Bons, Piedosos e Generosos que ao começarem a nos dar Graças não apenas nos dão, mas derramam-nas em abundância. ​

 

Confiando desconfiando

Mas, diante do Grande, eis nossa pequeneza e imperfeição. Desejo ser o mais leal possível aos meus sentimentos de outrora:

Quando Maria disse que eu estava curada confesso que na hora duvidei. Duvidei de Maria! Vivenciara aquela expectativa há tantos anos, de pedir a cura e ela nunca ter chegado...

Omiti esta fala de Maria em meus testemunhos durante os dois meses de pós-operatório, que era o período no qual a pele normalmente se rompia, pois ainda assolava-me o medo. Para contrapô-lo, afirmava para mim mesma que Maria havia me curado e lhe agradecia.

Somente passados dois meses e feita a tomografia que comprovou a cura internalizei-a melhor e me permiti relaxar.

Quis com isto manifestar a que ponto chega nossa incredulidade, o quanto acreditamos desconfiando e que o caminho da fé é uma construção. Do nada ao pouco e do pouco ao muito.

 

Novamente Jesus

Enquanto rendia graças aos Céus em oração, senti minha mente se expandir. Quanto mais se expandia, mais a sentia ‘saindo do meu corpo' e as dores físicas reduzindo até desaparecerem por completo.

Foi quando escutei dentro de mim uma voz:

"Confie em mim." Sabia que era Jesus.

Minha mente seguiu se expandindo até se situar no espaço (universo) e tive a percepção da sua infinitude. Então, quando minha mente conseguiu abarcar aquela dimensão de infinitude, Jesus fez aquele espaço se ampliar muitíssimo mais, mostrando-me que havia mais para além do que minha mente havia conseguido abarcar. Quando finalmente minha mente deu conta de assimilar aquela nova dimensão de infinitude, ele a fez novamente se ampliar muitíssimo mais, e seguiu fazendo sucessivas vezes e cada vez de forma mais acelerada.

Com aquilo, soube ele queria me mostrar o quanto Deus é Grande, que tudo aquilo é sua Criação e o quanto eu podia confiar nele.

A verdade é que eu estava tensa e, de repente, ouvi o apito do aparelho que monitora as batidas do coração: “piiiii...”

“Voltei” assustada para o meu corpo e implorei para Jesus que não estava pronta para ter uma parada cardíaca*. Por estar plenamente consciente, pensei na repercussão médica de uma parada cardíaca em mim e que poderia comprometer no tempo de saída do CTI e mesmo do hospital.

Instantaneamente me dei conta que estava querendo impor minha vontade sobre a dele, mas a verdade era que estava com bastante medo e não ia dar conta. Pedi-lhe desculpas, o aparelho retomou o barulho regular e não voltou a disparar mais. Minha mente queria continuar expandindo e eu, tensa, fiquei tentando controlar para que ela expandisse somente até o ponto no qual eu ainda conseguisse sentir meu corpo deitado naquele leito.

Sentia-me imensamente feliz por poder passar a noite com Jesus. 

E ele me mostrou outras coisas.

Antes de internar, tinha avidez por compreender como Jesus podia usar um sofrimento meu a ele oferecido voluntariamente para salvar almas. Desejava entender como que o 'oferecimento de um sofrimento' se conectava com a 'salvação de uma alma'  sendo ambos aparentemente tão distantes e diferentes um do outro.

Para minha surpresa, Jesus disse que ia me explicar como o sofrimento que lhe entrego era usado para salvar almas. Disse que quando alguém sofre na Terra está na verdade caminhando até Deus por meio da dor e que desta forma era possível se chegar ao 'grande amor' dentro do coração. E que esse grande amor é que se une ao Grande Amor de Deus. De modo que o sofrimento e a dor são na verdade AMOR, estão dentro do AMOR. Por isso que muitos eram salvos mediante o sofrimento meu entregue a ele. Disse também que o meu sofrimento representava para ele o sofrimento de muitos.

Em seguida, senti uma “turbulência” real em meu leito. Ele disse que eram trovões e vi que havia começado uma chuva torrencial numa outra dimensão escurecida. A chuva caía sobre muitas pessoas que estavam deitadas e lamacentas. Elas se levantavam molhadas, limpas pela chuva e empreendiam uma caminhada adentrando em solo firme na direção de um feixe alargado de luz branca que descia do alto, no qual iam sendo resgatadas por anjos.

Ele disse:

Isso é o que acontece quando você ora para os que estão no purgatório. São resgatados e salvos.”**

Eu estava em profundo júbilo por estar em sua presença.

Ele disse:

Você está no CTI descansando em mim.

Eu encontrava-me ali literalmente com o corpo físico deitado e recuperando-me.

Disse:

Você vai sair deste descanso em mim e vai retomar a sua vida, porém comigo.

Eu percebia meu corpo físico acamado e via que ele, Jesus, retinha meu corpo espiritual deitado numa maca e velava ao meu lado enquanto passava as mãos suavemente sobre meu corpo, como que dizendo: “Está tudo bem, fique quietinha, repousando, eu estou aqui." Mostrava-me que "reteria tanto meu corpo espiritual como o físico descansando nele”.

Estava fisicamente em êxtase e espiritualmente em completo júbilo, pois havia me encontrado finalmente com o Senhor. Enquanto ele dizia para eu descansar, meu espírito estava acamado junto a ele querendo retê-lo desesperadamente à vista, com um sorriso que mal me cabia e mexendo os pés ansiosamente, pois me sentia pronta para a qualquer momento saltar da maca e começar a servi-lo.

Naquele estado jubiloso do meu espírito compreendi mais uma vez o quanto era interessante e novo o fato de eu me encontrar num leito de pós-operatório vivendo tudo aquilo fisicamente, mas com a alma alegre, leve e ainda por cima, adorando-o.

Jesus então mencionou a palavra ‘consagração’.

Eu não sabia o significado desta palavra, sabia apenas que relacionava ao cristianismo. Pensei que não podia estar imaginando aquilo tudo, pois jamais falaria para mim aquela palavra e tão logo que possível a consultaria no dicionário.

Ele disse:

Você vai me entregar um novo sofrimento, um que até então não entregou.

Eu lhe entregaria uma nova dor.

Mostrou-me meus dois filhos. Em seguida, mostrou o mais velho já rapaz. Fiquei encantada. Busquei o mais novo, pois queria vê-lo rapaz também até que o “achei”. Meu coração se alegrou. Eram meus dois filhos muitíssimos amados e fontes da minha mais recente preocupação: a evangelização.

Jesus então mostrou meu esposo, ateu veemente (em todas as oportunidades em que havia tentado semear em meus filhos algo a respeito de Deus, ele as havia lançado por terra, o que me entristecia).

Disse:

A dor que permitirei a seu esposo viver por meio do seu sacrifício pessoal em permanecer mais tempo no hospital, afastada dos seus por tempo indeterminado, fará com que ele aceite Deus. E isso salvará sua alma e a dos seus filhos, pois serão evangelizados.”

Jesus, naquele momento, me colocava diante de mim mesma para que eu escolhesse se estaria disposta a sacrificar a mim pela conversão do esposo.

Meu coração doeu muitíssimo, pois o que mais desejava era sair do hospital para reaver meus filhos e, diante de uma situação como aquela, teria de pegar fôlego para seguir ali por tempo indeterminado, sem horizonte. Aquilo doeria fundo na minha alma. Constituía enorme sacrifício.

Detive minha atenção por alguns instantes no esposo e senti grande amor. Conclui que ele merecia, no altar do meu coração, conhecer Deus tal como eu estava conhecendo.

Jesus abriu um sorriso. Disse:

Em meu coração você me faz felicíssimo por esse gesto. Eu não esperava de você nada diferente disto que está me mostrando.”

Compreendi que mediante um sacrifício pessoal meu, entregue a ele, teria os meus três queridos salvos, no caminho do Senhor.***

Assim, eu desfrutava extasiada sua presença, que era apenas espiritual. Meu desejo era de ajoelhar-me diante dele, mas não podia nem fisicamente nem em espírito.

Meu coração transbordava de júbilo enquanto via uma luz dourada muitíssimo forte sobre mim. Fiquei contemplando-a extasiada enquanto agradecia emocionada. Lágrimas escorriam abundantemente dos meus olhos físicos.

Eu lhe disse:

“Jesus, que bom que finalmente o encontrei. Agora ficou claro para mim toda minha trajetória nesta vida, principalmente a busca insaciável e incansável da minha alma por algo a mais, que me preenchesse. Mas eu não sabia que afinal buscava era a ti. Agora tudo faz sentido.”

Compreendi, naquele momento, que era realmente preciso querê-lo muito para encontrá-lo. Eu o havia querido a minha vida toda, mas não tinha consciência disto! Que bom que ele havia tido misericórdia e viera até mim. 

Naquele momento reconhecia também a enorme fome e sede que eu tinha de Jesus e das coisas dele.

Implorei:

“Agora que o encontrei, por favor, não me deixe perdê-lo jamais. Este é o único desejo do meu espírito para todo o sempre.”

Ele respondeu:

Assim como você me foi fiel durante todos esses dias no hospital, eu lhe serei fiel e não a abandonarei mais.” ****

Difícil descrever o que senti. Estava em completo êxtase espiritual, pois Jesus era tão belo e generoso e tudo o que ele quer é que o queiramos e o busquemos.

Foi impressionante a força majestosa que ele exerceu sobre meu espírito. Senti uma necessidade imperiosa de me curvar diante dele e reverenciá-lo, adorá-lo e louvá-lo de todo o meu coração.

Eu era dele para todo o sempre.

Nota:

*Recordei de uma acompanhante que havia sofrido um infarto – no qual tivera um encontro com Nossa Senhora - e que devido ao sofrimento hospitalar temia sofrê-lo novamente.

** O que me ocorre ao escrever estas linhas é quão sério e digno de ser meditado e colocado em prática pelo maior número de pessoas possível é a oração às almas que se encontram no purgatório.

***Após a alta e de volta ao lar compreendi que a grande dor e o grande sacrifício que aceitara oferecer a Cristo constituía em consagrar minha vida conjugal e familiar pela conversão do esposo e de toda a família.

****Desde o início da internação assumira um compromisso com Jesus de ler num mesmo dia e horário da semana em voz alta um livro que tratava ao seu respeito independente do paciente e acompanhante que estivessem no outro leito e minha internação durou 85 dias.

Mais graças de Maria

No dia seguinte tive alta para a enfermaria.  Observava o movimento dos enfermeiros, médicos, da outra paciente e conversava com minha acompanhante* quando me dei conta que enxergava uma sobreposição de imagem onde via o manto azul de Nossa Senhora. Fechei os olhos e lá estava, numa nitidez incrível, jamais vista com olhos normais, e num tom azul escuro com delicados detalhes em dourado. Detive-me em pura contemplação.

A partir desta imagem foram surgindo outras e outras como em uma sucessão de slides: rosas solitárias ou reunidas nas cores vermelhas ou brancas, pessoas idosas, adultas e crianças, homens e mulheres, sozinhos ou em grupos, vestidos ou desnudos, pérolas, estátuas e mantos de Nossa Senhora. Imagens com movimento ou estáticas. Sempre se recomeçava com uma que em seguida era transmutada para outra, quando então se trocava a imagem. Permaneci a maior parte do tempo possível de olhos fechados, pois não queria perdê-las.

Para meu regozijo, elas acompanharam-me até a hora de dormir e também durante todo o dia seguinte.

Em determinado momento ouvi uma voz dentro de mim em alto som como que transmitida por microfone. Uma voz de puríssima feminilidade. Era de Maria.

Noutro momento vi uma imagem espelhada em tempo real de um dos lados do meu rosto no qual uma mãozinha de bebê fazia carinho na minha bochecha. Até olhei para minha bochecha de verdade a fim de conferir, mas não nada vi. Fiquei emocionada.

A partir do segundo dia passei a escutar ininterruptamente em minha mente uma música lindíssima (que depois descobri ser “Ave Maria de Gounod”) que me acompanhou nos dias seguintes.

Passado aquele período e meditando sobre toda aquela riqueza, conclui que Maria me apresentara um pouco do seu coração – e como este era tenro, feminino, delicado e ao mesmo tempo forte e puro.

 

Algo a mais sobre Maria

Algo que me tocou profundamente é que inicialmente eu não buscava Maria, estava focada exclusivamente em Cristo. Foi ela mesma quem veio ao meu encontro para que eu me voltasse para ela e lhe pedisse graças, evidenciando seu bondosíssimo e generosíssimo coração.

Maria quer distribuir graças e muitas vezes nós é que não lhe pedimos. Em sua história e aparição, Santa Catarina conta que viu sair de suas mãos espessos raios de luz, mas em determinados pontos os raios eram finos e Maria disse-lhe que aqueles últimos eram graças que ela queria distribuir para as pessoas, mas estas não lhe pediam. Quanta compaixão. (A verdadeira história da Medalha Milagrosa).

 

A minha vontade e a vontade de Deus

Passados três dias da cirurgia, consegui ir sozinha até o banheiro e me olhei no espelho. Levantei o curativo e mal dei conta do susto. O médico havia retirado todo o osso da minha testa, restando apenas as sobrancelhas. Fechei os olhos resistindo a acreditar. Me ocorreu o quanto Deus estava sendo cruel comigo e quão duro ele era. Permaneci ali durante um bom tempo e chorei.

Esperava após aquela cirurgia sair do hospital sem vias de retorno, curada em definitivo e pronta para retomar as diversas particularidades da minha vida com a devida liberdade emocional, física e espiritual daquele difícil trecho da minha vida. 

Chorei expurgando toda dor. Não desejava ser consolada pois só eu sabia o que me ia dentro. Eu mesma deveria sangrá-la até porque havia o desapontamento de seguir presa àquela situação por mais tanto tempo até o momento da colocação da prótese onde haveria de sofrer novamente a dor na minha carne. Até lá eu deveria reunir fôlego para viver tudo o que tivesse que ser vivido.

Na minha mente apenas questionamentos. “O que mais Deus quer de mim? Eu já sofri bastante”. Sentia-me como se houvesse recebido um duro golpe de Deus - que, outra vez mais, me derrubava no chão.

Acolhi meu próprio sofrimento e nas horas seguintes me vi espiritualmente caída no chão de bruços com força apenas para respirar. Dizia a Jesus que estava apenas respirando, pois não conseguia me levantar.

***

Ainda acordada no início da noite fui especialmente amparada pelos Céus. Senti-me anestesiada na cabeça e no corpo todo por mais de uma hora sem conseguir me mexer. Visualizava uma luz de cor verde claro e sabia que esta representava cura e saúde.

Apenas neste pós-operatório fui muito abençoada pelos Céus. Sentia por diversos momentos uma sensação de anestesia na testa e sabia que estava sendo espiritualmente tratada. Nunca havia vivenciado um processo de cicatrização tão rápido, pleno e sem qualquer inchaço. A cicatrização se completou rapidamente, repuxando e assentando a pele. Sentia quando estava sob efeito das anestesias celestes. As trocas dos curativos e a primeira lavagem da cicatriz pelos enfermeiros não doeram, apenas senti pressão no local manipulado. 

***

No dia seguinte decidi abandonar aquela postura espiritual e busquei aproximar-me de Jesus. Encontrei-o espiritualmente sentado numa pedra. Arrastei meu corpo espiritual e deitei meu rosto sobre um de seus pés. Deixei-me ali ficar. Bem aos poucos fui me permitindo renovar meu conteúdo interior e curá-lo. Disse-lhe que, mais uma vez, lhe entregaria meu sofrimento para que o carregasse para mim.

O que se seguiu foi que gradativamente ergui meu espírito junto a ele até que ele me levantou por completo e recomecei a dar meus primeiros passos por ele amparada.

Recordei-me do sacrifício sacrossanto que havia entregado a ele no sentido daquela ser a vontade de Deus para mim: de ainda não ter aquela página da minha vida virada. Então eu me curvaria novamente diante de seus desígnios e confiaria.

Não sabia como, mas sabia que ele guiaria meus passos fora do hospital para dentro da minha própria vida com meus filhos, esposo, parentes, pós-operatório, profissão, pressões externas e como enfrentar e esconder socialmente a imperfeição da testa. Tudo aquilo se apresentou para mim isento de qualquer dor. Eu não precisava mais me pré-ocupar, pois estavam todos a ele entregues e tudo que tinha que fazer era avançar.

Foi assim que tudo mudou de ângulo. Concebi o uso de um lenço na testa e tudo o mais de uma vida absolutamente normal. Alegria, paz, fé, confiança, o sorriso e a palavra de Jesus retornaram a mim chamando atenção dos que me cercavam.

***

Meu desejo por meio desta passagem é sinalizar que às vezes lutamos e lutamos, e quando achamos que não temos mais força para lutar e que as lutas vão finalmente ser encerradas e vamos enfim poder descansar, Deus vem e diz:

“Tsc, tsc, tsc! Ainda não acabou para você. Quero que você estenda mais um pouco sua caminhada, pois meus planos para você ainda não terminaram: levanta e vai.”

Foi isto o que me coube fazer: enxergar, aceitar, reunir mais fôlego, confiar e voltar a caminhar. Mas não sozinha, com Deus.

***

Já no período de licença médica aguardando a cirurgia da prótese o que me ocorria era quão perfeitos são seus planos para mim.

Que tudo sempre “concorre para o bem daqueles que amam a Deus.” (Romanos 8,28).

Não poderia haver existido outra melhor forma de me manter quietinha dentro do meu casulo em concentração, crescimento e fidelização a ele e às suas causas. Por isto aceitava, obedecia e agradecia.

E como já me era possível colher frutos daquele formoso processo de interiorização, a pergunta que dentro em mim ressoava era:

“Como não aumentar ainda mais minha confiança nele?”

 

Meu renascimento em Cristo

Com 85 dias de internação, minha alta estava prevista para um sábado. Compreendia a complexidade do término do meu período hospitalar dado meu histórico e por estar sendo assistida por uma equipe multidisciplinar (de neurocirurgia e endocrinologia por causa do antibiótico). Meu aniversário seria na quarta-feira e havia com minha família planejado comemorá-lo com bolo e tudo o mais.

Eis que na manhã do meu aniversário meu médico entrou no quarto dando-me alta. Perplexa e muito feliz compreendi instantaneamente que era Jesus me mostrando o seu poder na minha vida.  Que para ele, tirar-me do hospital alguns dias antes do previsto pelos médicos era facílimo, pois ele tudo podia.

Além disto ao fazê-lo no dia do meu aniversário soube também que ele queria marcar simbolicamente e de forma indelével o meu renascimento nele para uma nova vida com ele.

 

Jesus, o centro da minha vida

Já não planejo mais para mim, quem o faz é o Senhor

Pouco antes da alta, em uma visita, minha irmã perguntou o que eu pretendia fazer após sair do hospital. Uma pergunta simples, rotineira. Mas, naquele momento, tudo dentro de mim paralisou.

“Como assim, o que eu pretendo fazer quando sair do hospital?” - pensei. No fundo do meu ser eu não pretendia nada mais para mim no futuro, mas deixava que Jesus pretendesse para mim e me mostrasse o que era para eu fazer.

Havia algo muito sério transformado dentro de mim. Eu não planejaria nada mais para mim, mas me colocaria inteiramente nas mãos do Senhor.

E como explicar aquilo para minha irmã, naquele grau de profundidade? Impossível naquele momento, talvez noutro. Optei por dar-lhe uma resposta superficial e fugaz.

***

Semanas depois ao fazer meu diário espiritual após a leitura da Bíblia, no momento em que internalizava a compreensão de que era para Jesus ser o centro e o único dono e Senhor da minha vida e nada mais, tive a percepção sublime de que, mais uma vez, ele alçava-me da Terra e suspendia-me, eu perdia o chão e ascendia aos Céus, ficando tudo para trás...

Remeteu-me àquele mesmo momento na capela do hospital.

Jesus renovava em mim, de forma diferente, o desligamento de todas as coisas mundanas para que nenhuma delas me dirigisse mais, mas apenas ele.

 

Autossuficiência e Deus

Ainda no hospital certa vez deparei-me com um algo inegável:

Até então eu era autossuficiente nas coisas da minha vida, era eu quem resolvia e controlava tudo aquilo que dizia respeito a minha pessoa. Nada mais natural, pois desta forma havia sido criada.

Eis que veio Deus me mostrar que não era bem eu a autoridade máxima da minha vida, mas ele. Ele era a autoridade suprema sobre todas as coisas e também o deveria ser nas minhas.

Senti-me confusa, afinal, como poderia manter minha autossuficiência e ao mesmo submeter tudo de mim a Deus? Não havia como. Ademais entendi que caso submetesse meu tudo a Deus me transformaria numa daquelas pessoas sem autonomia própria a quem a vida leva de um lado para outro ao sabor das circunstâncias - e como é que se vive no mundo desta forma?

Tais pensamentos eram muito sérios e, logicamente, além de me confundirem, me assustaram. Eu não possuía nenhuma referência humana de como seria viver daquela forma.

Detive a pensar na maioria das pessoas naquela velha tentativa de nos comparar aos demais para tirarmos deles uma referência e todas que conhecia também se colocavam na vida de forma autossuficiente, afinal todas haviam sido criadas para isso.

Compreendi então que era exatamente pelo fato de se acharem autossuficientes que as pessoas se encontravam tão afastadas de Deus. Afinal de contas, para que se precisa de Deus quando já se é o próprio deus de si mesmo?

Percebi o quanto somos criados culturalmente pela sociedade para servirmos ao mundo e não a Deus.

E o que acontece depois?

Vem a vida e mostra para a pessoa que ela na verdade não controla aquilo tudo que achava que controlava. O mundo desmorona sobre sua cabeça e a pessoa imerge num mar de sofrimentos. E tudo simplesmente porque se estava vivendo uma ilusão de si mesmo e de Deus e quem lhe batia forte era a realidade:  

A realidade de que Deus é tudo e que cada um sem ele é nada – E tudo isto apenas para que as peças voltem a se encaixar.

Deus tirou de mim o engano da autossuficiência para que compreendesse que a ele devia submeter todas as questões da minha vida. E antes que se possa pensar, isto não me tornou uma pessoa desleixada, pelo contrário, reajustou-me para realizar minhas coisas sempre com o olhar fixo nele, em seus desígnios e vontade, e colocando da minha parte primor e responsabilidade.

Ao passar a conduzir-me desta forma notei que comecei a me diferir das pessoas que me circundavam e isto desencadeou em mim forte sofrimento. Isto se devia ao fato de eu haver escolhido o caminho do Senhor enquanto eles não.

Esta mudança em meu interior somente foi possível porque fui dócil a Deus e lhe permiti abrindo-lhe espaço.

Porque para renascer para o novo é preciso morrer para o velho.

Porque para renascer para Deus é preciso morrer para o mundo.

***

Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto.” (João 12.24).

A caminhada para Deus é toda uma renovação de paradigma.

 

Conhecendo Jesus

Conhecer Jesus requer uma caminhada ativa.

Isso porque todos nós já possuímos Jesus Cristo de forma passiva. Trata-se de um nome e uma figura conhecida por todos e provavelmente não exista outro mais conhecido nos quatro cantos do planeta. Desta forma todos a princípio o conhecem.

Mas o que pude vivenciar é que para conhecer o verdadeiro Jesus é necessário empreender uma caminhada real e ativa. É preciso desejá-lo, querê-lo e buscá-lo com todas as forças e perseguir este ideal. Aquele que verdadeiramente assim fizer poderá contar com o próprio Jesus quem tomará a frente trazendo-lhe tudo aquilo que conduzirá ao conhecimento dele e das suas coisas, seja sob forma de pessoas, livros, pregações, testemunhos, orações e tudo o mais que for necessário.

E paulatinamente dentro de cada um ele se revelará, de forma inequívoca.

Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.” (Mateus 7:7- 8).

Se cada um soubesse a verdade que este trecho encerra!  O que pude aprender é que todo aquele que desta forma buscar a Cristo certamente o achará, pois ele próprio virá ao encontro – é exatamente o que espera de cada um há tanto tempo. E quão alegre deve se sentir seu formoso coração a cada encontro...

"Eis que estou a porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, eu com ele e ele comigo."(João, Ap. 3, 20).

Estas duas passagens bíblicas estampam promessas de Jesus. E podemos ter absoluta certeza de que ele é fiel e honrará com sua promessa se nós o honrarmos com nossa fidelidade e busca.

 

Criando um relacionamento com Cristo

Tendemos a achar que Jesus, por sua excelsa majestade, se encontra muito distante de nós, no Altíssimo dos Céus, enquanto cada um atrelado na terra num agrupamento superpopuloso.

Nos perguntamos como ele daria conta de se ocupar exclusivamente de cada um de nós, se somos tantos.

Um dos primeiros livros que chegou em minhas mãos derrubou esta concepção por completo. Reapresentou-me um Jesus presente, amoroso e amigo, que me acompanha e assiste ininterruptamente, além de acessível - a quem eu poderia estreitar o relacionamento criando um laço de intimidade.

Jesus se mudara de ângulo para mim. De distante passara a estar dentro e comigo. Passei a conversar com ele como com um bom e leal amigo.

O livro foi o "Pensamentos sobre a Espiritualidade" (disponível na internet em pdf) no qual ele fala cotidianamente a uma beata norte-americana em suas questões pessoais enquanto a conduz por um aprofundamento na sua espiritualidade e religiosidade.

Despertei para a realidade que é o Cristo Vivo que existe permanentemente e se comunica dentro de mim, que aguarda que lhe abra o canal que existe entre nós para que possa me conduzir e transformar.

Eis um notável encontro que da mesma forma como aconteceu comigo está para acontecer com cada um.

Assim fala Jesus:

Eu estou aqui, querida alma. Basta que olhes para o teu coração. Sofro por ti, pela tua dor, pela tua solidão, pelo teu isolamento. Todas as almas se sentem sós, por vezes, e compreendem que o consolo humano é vão. As almas devem procurar consolo espiritual ou celestial. Se te sentires emocionada interiormente, é a tua alma que Me procura. Responde à tua alma, minha querida filha perdida, porque Me vais encontrar à tua espera, e Eu vou resolver todos os teus problemas. Se tu assim Me deixares, Eu consigo trabalhar em ti de uma forma miraculosa. Procuraste outros consolos que apenas te desapontaram. Dá-Me agora uma oportunidade. Eu estou aqui. Eu amo-te. Eu estou à tua espera.” (Pensamento sobre Espiritualidade, p.93 – 94)

Penso que vem de mim, mas vem dele

Num determinado momento um aspecto se revelou dentro de mim. Uma semana antes de internar, fiz algo que não me era de costume: numa noite pedi a Jesus que me ajudasse a ‘resolver aquela situação levando-me para o hospital’, pois ‘pelas minhas próprias pernas não conseguiria dado não ter forças para sofrer mais’.

Compreendi que na verdade havia sido o próprio Jesus que docemente havia plantado aquilo dentro de mim: o desejo de pedir-Lhe. E isto porque caso eu fosse hospitalizada subitamente sofreria muito mais do que se houvesse antes pedido para ele. Neste segundo caso eu já estaria parcialmente pronta e a dor seria menor, tal como foi.

Esta sua singela atitude traz selado em si seu caráter manso, bondoso e humilde. Ele agira dentro de mim de forma suave e sem alarde e me fizera o melhor sem necessitar que eu soubesse que era ele quem fazia. Quanta grandeza e quanta presença.

Minha mente me levou aos primeiros pós-operatórios e senti com clareza que Jesus viera preparando-me desde aquela época plantando em mim um ardor específico por leituras cristãs que me remetessem à sua pessoa, vida, ensinamentos e exemplos. Colocara em mim uma sede de buscar livros na internet e de querer inspirar-me nele na minha vida diária. Acabei lendo livros que me tocaram profunda e indelevelmente cujos personagens viviam em elevada cristandade. Só não encontrei um livro, manual ou cartilha que me ajudasse a seguir seu exemplo no meu dia a dia, motivo que me fez continuar sedenta. Descartava a possibilidade de ler a Bíblia pela dificuldade de compreender seu conteúdo.

Olhando para trás, absolutamente nada havia sido por acaso. Tudo já era obra dele. Era formidável enxergar o projeto que Deus tinha para mim se desenrolando mesmo no meio dos mais atrozes sofrimentos. Que doce alegria descobrir que sempre havia tido sua presença e condução.

Em quantas outras passagens da minha vida ele deveria ter agido dentro de mim e eu pensava que era eu mesma a fazer! Logicamente que houve muitas coisas que eram minhas mesmo, mas que bom que era chegada a hora de reajustar as lentes e me tornar mais justa nesta apreciação.

Anne, a beata norte-americana, disse assim:

Jesus quer que eu peça dons, os dons do Espírito Santo e o dom da cura. Eu comecei a pedi-Los, sendo-me dado o estimulo, mas parei. Não sou digna destes dons e isto me amedronta. Penso que as palavras que usei foram: ‘Jesus, eu não quero pensar que estou espiritualmente muito elevada.’ Jesus respondeu que Ele é quem vai decidir quão espiritualizada devo ser e meus anseios e desejos vem todos Dele. Eu devo ficar tranquila e confiar que Ele vai cuidar de tudo. Ele me fará avançar tão rapidamente quanto Ele desejar e tenho que deixa-Lo fazer isso.” (Pensamento sobre Espiritualidade, p.49-50)

É precioso saber que vem do próprio Jesus o chamado interno de querer buscá-lo. Que cada um que o perceba saiba que Cristo já vive e opera dentro dele, bastando que alimente este desejo, o obedeça e o resto ele fará. Não pode existir alegria maior do que esta no coração.

Estou com você minha filha e seu desejo de estar unida a Mim vem de Mim.” (Pensamento sobre Espiritualidade, p.50)

 

Minha santificação não é mais algo intangível

À medida que segui caminhando com o Senhor passei a notar que estavam emergindo dentro de mim sentimentos de maior pureza e divindade, como pequenas mostras dos sentimentos considerados santos.

Compreendi que quem os colocava dentro de mim era Jesus. Surpreendi-me ao comprovar que seu poder e divindade ainda se encontram muito longe de serem conhecidos por nós, meros seres mortais, e que possuem um alcance incrível, desde que o aceitemos como único caminho, verdade e vida. Mas ele não conseguiria realizar em mim se não entrasse com a parte de esforço que me cabia.

No que diz respeito a mim, sempre senti uma necessidade imperiosa de melhorar-me, de acertar mais e errar menos e, por consequência, favorecer o melhoramento dos que comigo conviviam. Sempre havia existido pureza, intensidade e seriedade neste sentimento, mas era sempre acompanhada de sofrimento diante da dificuldade que é realizar a obra do próprio aperfeiçoamento. Por mais que buscasse fazer, compreendi que não conseguia avançar de forma efetiva porque na minha vida Jesus estava ausente.

Neste sentido, quando se vive uma vida sem Cristo, gasta-se muita energia e as coisas pouco saem do lugar.

Mas a partir do momento que passei a caminhar com ele comprovei-o operando dentro de mim mudanças que eu jamais conseguiria realizar sozinha. Isto me fez me curvar diante da sua majestade.

A santidade é um processo em movimento e, exatamente como com a maior parte das coisas, Eu poderia manifestar a Minha divindade e fazer de vós santos, mas que mérito teríeis vós? Será bem melhor que os Meus queridos filhos façam pequenos atos de amor, para que Eu consiga ver as vossas vontades a voltarem-se para Mim. Eu vou então, e de imediato, voltar-vos para as alturas que só conseguis imaginar. Confiai em Mim. Não ficareis desapontados”. (Mensagem de 25 de junho de 2003 do livro Pensamento sobre Espiritualidade)

Filhos do Deus Todo-Poderoso, sabei que este oferecimento da vossa vontade pode fazer de vós santos muito rapidamente.” (Jesus fala aos seus apóstolos, p.25)

 

Jesus me salvou

Uma passagem Bíblica que me tocou profundamente foi a que dez leprosos foram ao encontro de Jesus e lhe pediram a cura. Uma vez curados, todos foram embora exceto um que a ele retornou e Jesus perguntou:

Todos os dez foram purificados, não foram? Então, onde estão os outros nove? Nenhum deles voltou para dar glória a Deus, a não ser este homem de outra nação?” (Lucas 17, 17-18)

A pessoa que me contou esta parábola quando ainda estava no hospital disse que Jesus age sobre muitos e os cura, mas nem todos o reconhecem, por isso não são por ele salvos. Acrescentou que eu havia sido não apenas curada, mas também salva porque havia me curvado a ele, me interessado por ele, o aceitado e decidido segui-lo.

Mas Jesus está igualmente para todos. O que diferencia é o que cada um faz diante da verdade que é Cristo. Tive a graça de finalmente conhecê-lo, mas por meio da dor e da doença. Cada um possui seus momentos de ouvir os chamados internos ou de serem sacudidos tal como fui.

Penso que a grande dificuldade de encontrarmos Jesus se deve ao fato de estarmos confusos e transitando pelo mundo absorvidos pelo mesmo. A isto soma-se o fato de o considerarmos uma ideia fantasiosa e não como uma Divindade real que traz o único caminho certo e seguro. Acrescenta-se a isto a ignorância de como fazê-lo aliado ao descrédito nos resultados.

 

Cristo me levou até o deserto

Já fora do hospital entrei em contato com uma mensagem de Jesus no Congresso Internacional de Renovação Carismática Católica, em 1974, que me impressionou:

Dias de trevas virão para o mundo, dias de tribulação... Os apoios que existem para meu povo não mais existirão. Quero que estejam preparados, povo meu, para conhecer apenas a mim e para ter-me de modo mais profundo do que nunca.  Levarei vocês ao deserto...  Tirarei tudo aquilo de que dependem agora, para que dependam só de mim.” (A Bíblia no meu dia-a-dia)

Jesus havia feito exatamente aquilo comigo. Levara-me ao deserto e me tirara tudo o que possuía, ou melhor, que achava que possuía. Fez-me voltar exclusivamente para ele e aceitá-lo como único salvador, dono e Senhor da minha vida e a ele entregar meu tudo.

 

Amigo dos pecadores

Sou uma pessoa normal com inúmeros defeitos e ainda muito distante da perfeição, que pecou bastante no passado e ainda peca nos dias presentes ainda que fazendo esforço.

Compreendo que sou prova viva de que Jesus está para cada um individualmente mesmo com nossas imperfeições e “mares” de pecados.

Eu não vim para julgar o mundo, mas para salvá-lo.” (João 12, 47).

Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento." (Marcos 2, 16-17)

O sentimento que acompanha a maioria das pessoas diante do próprio amontoado de pecados é achar que não se é digno de Cristo e por isso acabam se envergonhando e afastando dele. Quando na verdade ele diz:

Não é o pecado que mais fere o meu coração... O que O despedaça é as almas não quererem refugiar-se em Mim depois de o terem cometido.” (Revelações do Sagrado Coração de Jesus a Soror Josefa Menendez)

Que aqueles que se encontram em sofrimento pelos próprios pecados busquem-no, pois o sofrimento por si já é um princípio de arrependimento. Jesus os aguarda de braços abertos.

Refiro-me a ninguém menos do que Cristo, nosso “sacerdote eterno, porque é imortal e que, santo, puríssimo e imaculado, livre de pecado, separado dos pecadores e elevado no altíssimo dos Céus, intercede por cada um de nós junto a Deus e ofereceu-lhe seu sofrimento e sacrifício pessoal para a salvação de nossas almas”. (Ver Hebreus 7, 23-27)

"Qual, dentre vós, é o homem que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?"(Lucas 15:1-4).

 

A filha pródiga

Após a alta demorei umas quatro semanas organizando-me física e internamente para confessar-me com o padre. Por não ser cristã praticante minha última confissão havia sido na época da crisma. Portanto aquela confissão seria para mim especial porque estava seriamente comprometida e diante do Senhor. Fiz uma lista dos meus pecados dos últimos 20 anos: grandes e pequenos, alguns horrorosos, outros vergonhosos. E eu precisava de coragem para confessá-los todos ao padre.

O período da minha vida em que estive mais afastada de Deus foi o qual, por estar mais cega, cometi os pecados mais graves - os chamados pecados mortais, dos quais mais me arrependia.

Após a confissão o padre com muita bondade recomendou que orasse e lesse a “Parábola do filho pródigo” (Lucas 15:11-32). Disse o que havia acontecido comigo: eu havia me afastado de Deus e assim ele havia permitido; então eu caminhara pela senda do pecado, mas me arrependera e agora voltava a ele, que me recebia com o mesmo amor paterno, acolhimento e perdão.

E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lhe, e ponde-lhe um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e reviveu; tinha-se perdido e foi achado.” (Lucas 15:21-24)

Após ler a parábola emocionei-me verdadeiramente. Pude perceber como era apenas a repetição de vários filmes, de vários filhos extraviados que erraram, arrependeram-se e retornaram, e que até isto está previsto no grande coração e mente de Deus.  Como ele é grandioso e todos nós seres previsíveis, errantes e tão necessitados dele.

 

Meu desejo de escrever estas linhas

Sinceramente, nunca em toda vida havia encontrado pessoas que tiveram um encontro com Jesus ou Maria e os tivesse testemunhado a mim. Quanto me teria sido valioso receber tais testemunhos.

Além disso, considero o grandessíssimo bem que toda sorte de testemunhos pode levar para muitas pessoas. Eis os motivos que me moveram a escrever este livro.

Faço-o também movida pelo amor e com a intenção de aproximar as pessoas de Cristo, de Maria, dos anjos e santos dos Céus e de “derrubar” a imensa distância que muitas vezes achamos que nos separam deles.

Meu desejo também é de despertar ou aumentar a fé, de incentivar ou aprofundar a prática da oração e de apresentar os conteúdos bíblicos com suas vívidas significações, além de incitar a busca e aprofundamento pelas questões que dizem respeito a Deus.

Tudo para a honra e glória do Deus Pai que está nos Céus. 

 

No hospital nasceu um livro

Logo no início da internação, diante das primeiras claridades internas desta caminhada para Cristo, senti grande necessidade de registrá-las em um caderno.

Sabia que havia iniciado uma marcha que me cresceria diariamente e desejava registrá-la. Ocorreu-me que um livro poderia ser escrito relatando a trajetória que intuía que seria grandiosa para mim e da mesma forma para muitos. Poderia desta forma levar muitos comigo. Percorrer sozinha um caminho desta envergadura e natureza fazia vibrar meu espírito, mas criava uma dor permanente pela ausência dos demais.

Mas eu havia sido internada de urgência somente com a roupa do corpo de modo que até papel para fazer os registros diários era difícil. Pensei em um caderno, mas não cheguei a pedir para ninguém. Comecei a anotar em folhas de guardanapo.  

Em poucos dias uma querida copeira entrou no quarto anunciando que havia trazido um presente enviado por sua filha de oito anos. Ela havia se compadecido da minha situação de anotar em guardanapo, falara para sua filha e esta me enviara um caderno seu.

Jesus, que certamente plantara aquele sentimento no meu coração e notava meu total acolhimento, colocava naquele momento sobre minhas mãos um caderno novo em folha.

Com alegria o recebi, abraçando a copeira e agradecendo. Foi assim que pude iniciar os registros à medida que eles iam acontecendo, sendo-lhes o mais fiel possível.

 

Fidelização aos Céus

Poucos meses se passaram desde minha alta e segui diariamente comprometida com Jesus e suas causas e buscando-o. Mais cresci e mais grata me tornei. Muito mais me fidelizei a ele e aos Céus. Inúmeros outros testemunhos de graças e de sua ingerência em minha vida vivi. Comprovava a diferença enorme entre viver uma vida com e sem Jesus. E como Maria se revelava poderosa, doce e graciosa.

A frase “Deus é Fiel” não trata apenas de uma informação solta e romântica. Encerra a mais absoluta verdade que é: se eu sou a ele fiel, posso certamente contar com sua fidelidade em minha vida.

"Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus."(São Paulo, Efesius 2, 19)

Eu já não era mais visitante e não os tinha mais à distância, mas havia me tornado parte da equipe de Deus situada na Terra. Esta era uma das mais belas realidades que vinha comprovando em minha vida.

Renovava meus propósitos diariamente. Era normal que assim fosse. Não era porque havia feito no dia anterior que no presente cruzaria os braços e descansaria. Muito pelo contrário, cada dia era um novo dia de união com o Senhor.

 

Consagração da família a Jesus

Não havia muito tempo desde que retornara ao lar. Numa noite encontrava-me desanimada, em sofrimento devido a particularidades da vida conjugal geradoras de incômodos. Ao final do Terço Mariano quando meditava diante de Jesus a minha dor, uma resposta surgiu dentro de mim:

“Entregue seu esposo para mim em oferenda.”

Mais uma vez acorria-me uma palavra originalíssima: “oferenda” que eu jamais falaria para mim mesma - pensei. Fui ao dicionário e seu significado não me surpreendeu: “1) coisa que se oferece; presente, dádiva, oferta; 2) oferta feita a Deus ou aos santos.”

Jesus me pedia para lhe entregar meu esposo como oferenda e instantaneamente compreendi que toda obra de Deus que eu fosse capaz de realizar nele e por ele ao longo do dia deveria elevá-las ao Alto e entregá-las ao Senhor como oferenda minha a ele. Algo nada pequeno, pelo contrário, elevadíssimo.

Meu coração de mãe estendeu aquela mensagem aos meus filhos. Que eu realizasse ao longo dos meus dias uma verdadeira obra de Deus em cada um deles e em suas vidas, elevando estas obras também ao Senhor.

Compreendi que estava diante do consagrar a Jesus a minha família e que este requereria de mim o devido desprendimento de compreender que eles pertenciam a ele e não a mim.

Aquilo trazia consigo o mais grandioso conteúdo em relação à família que havia tomado contato em toda minha vida. Aquela novo ângulo mudava tudo. Eu realizaria o meu melhor junto ao esposo e filhos e ofereceria meus feitos a Jesus em oferenda. Eu realizaria dentro da minha família a melhor parte que me cabe realizar da obra de Deus visando a evangelização e santificação de todos. Eu dedicaria o trabalho de toda minha vida pelas suas (por que não?) conversões. Afinal, que valor tinha eu estar salva, ter conhecido Cristo, estar desfrutando de tantas perspectivas se não podia compartilhar meus passos e alegrias com os que me eram mais caros?

Mas para alcançar aquilo eu teria que necessariamente me dedicar à minha própria santificação para servir-lhes de exemplo. Plano perfeito de Deus para todos nós.

Finalmente encontrara algo elevado e a altura do que deveria significar a vida familiar para mim.

Mas o fato de haver encontrado tamanha revelação não me tornou isenta de viver lutas e sofrimentos dentro da família. A vida não se transformou num mar de rosas, mas o ângulo e a forma de encarar as dificuldades mudaram.

Passei a desnudar-me diante do Senhor, a sofrer diante dele, pedir-lhe ajuda, reconhecer meus pontos imperfeitos e esforçar ou lutar para incorporar as mudanças santificadoras que ele desejava para mim. Nem sempre tarefa fácil por tratar-se do próprio aprimoramento.

 

***

Em outro momento de luta motivado pelas diferenças em relação ao esposo no curso da oração do Terço veio-me em pensamento: “persevere, pois ao final obterás a coroação”.

Aquela palavra - “coroação” - era tão bela quanto não usual e eu jamais a pronunciaria para mim mesma. Fiquei emocionada.

Este momento me insuflou a certeza do caminho e a confiança no amparo divino. Levantou meu ânimo e ajustou meu olhar àquela que seria minha colheita após a morte, na imagem de uma coroação. Nada, nada pequeno.

 

Oferenda e consagração de toda uma vida

No hospital Jesus havia dito que eu lhe entregaria uma nova dor, uma que até então não havia entregue e em seguida se referiu aos meus filhos detendo-se no esposo, ateu.

Sondou meu grau de disposição em oferecer um sacrifício pessoal para sua conversão e eu, diante de um novo horizonte de muitíssima dor, aceitei movida pelo sentimento de amor e para que ele conhecesse Deus tal como eu estava conhecendo.

Compreendo que naquele momento Jesus me colocou diante de mim mesma e de algo grandessíssimo que seria oferecer de forma consciente um sacrifício pessoal de toda uma vida para a salvação da alma do esposo e as dos meus filhos.

Não tardou até os Céus trazerem até mim a história de Santa Mônica, mãe de santo Agostinho, cristã desde berço e símbolo de perseverança, fé e orações por toda uma vida. Ela alcançou a conversão de todos da sua família, esposo e três filhos, entre eles o santo que demorou 30 anos para se converter.

Esta santa se tornou uma feliz inspiração para mim.

 

As dificuldades da vida e a chama purificadora

Tenho aprendido que não estamos na Terra para ter uma vida sempre harmoniosa, estável e feliz, sem tribulações. Colheremos isso depois quando estivermos no Céu e caso tenhamos merecimento.

Por aqui é o contrário. Estamos aqui para viver tribulações que são como uma chama purificadora que vai “queimando” tudo aquilo dentro de nós que não é bom o suficiente e que pode ser melhorado, obedecendo assim aos planos de Deus. E ele quer nada menos que a nossa perfeição. Passada toda combustão dolorosa restam as cinzas de onde se levanta o novo ser interior, este que nunca mais será o mesmo, pois será melhor.

Assim, compreender a vontade do Pai que está posta e se revela em tudo aquilo em nossas vidas que não podemos mudar é uma chave. E a partir disto ao invés de assumir uma postura de evitação, fuga e vitimização, devemos aceitar com resignação e caminhar para dentro do problema, mas não sozinhos e sim segurando nas mãos de Deus, sendo dóceis e confiando na obra que ele tem para nós no final.

Jesus, aguardando o momento de ser levado aos sumos sacerdotes para julgamento e antevendo a crucificação teve pavor, angustiou-se e suplicou a Deus:

"Pai! Tudo te é possível; afasta de mim este cálice! Contudo, não se faça o que eu quero, senão o que tu queres."(Mateus 14, 36).

Quanta obediência e resignação à vontade de Deus!

Quantas vezes estamos carregando o peso da nossa cruz, nos encontrando no maior dos tormentos e, ainda que clamando aos Céus por ajuda, parece que recebemos de volta apenas o silêncio? Bem, Jesus mesmo quando pregado na sua cruz sentiu na pele a ausência do Pai e bradou:

Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?” (Salmo 21).

Se até o Senhor viveu este momento do silêncio de Deus, como nós, pequeninos mortais, não o viveremos? Não está também nisto seu exemplo digníssimo de obediência, submissão e resignação ao Pai?

 

Sofrendo por Cristo e com Cristo

Minha forma de sofrer mudou. Passei a sofrer também por Cristo, pelas causas que são dele na Terra. É este um sofrimento bastante doído, mas que fazia vibrar meu coração pela certeza da união com ele.

Também descobri que podia unir ao sofrimento dele todos os meus sofrimentos particulares diários.

"O que falta às tribulações de Cristo, completo-as na minha carne" (São Paulo, Co 1, 24)

Quão gracioso era passar a sofrer pelos sofrimentos de Cristo e unir os meus sofrimentos aos dele.

 

Preocupação de uma mãe cristã

Uma preocupação profunda ao retornar ao lar era a evangelização dos meus filhos. O que falar? Quando começar? Não queria expor ambos às excelsas compreensões de Deus para que depois ficassem confusos com o que receberiam do pai. Mas estava sendo fiel aos Terços e meu filho mais velho tudo observava.

Numa manhã ele abriu os braços e repetiu em tom de louvor: “Senhor Jesus Cristo, me segue, meu Amor! Senhor Jesus Cristo, me segue, meu Amor!...” Achei lindo e espontâneo. Mas nunca havia eu referido daquela forma.

Conversando com minha amiga devota ela disse que "Jesus havia falado pela boca do meu filho". Ela lera algo semelhante no livro A Verdadeira Vida em Deus (no qual Jesus falou pela boca do filho da escritora). Acrescentou que era um sinal evidente que Jesus me fazia saber que estava comigo e na evangelização do mesmo e que eu podia nele confiar.

Foi meu menino também que numa manhã surpreendeu-me pedindo para o ensinar a rezar. Ele mesmo havia mostrado como e quando inspirado pelos Céus.

A evangelização dele foi se dando de forma lenta, porém natural. Era lindo ver Deus mesmo agindo, abrindo um lugar especial em seu coração. Meu filho passou a expressar amor espontâneo a Deus e a adorar as oportunidades de orar (que eu jamais forçava) e a escutar adultos conversando sobre Jesus.

***

Algumas vezes ao se referir à Maria ele disse "Maria de Fátima" e “Maria de Lourdes”. Aquelas referências não partiram de mim. Ao pesquisar sobre suas histórias, que doce surpresa constatar que ambas aparições haviam sido para crianças.

Cada um destes momentos enchia meu coração de ternura. Eram sinais evidentes enviados por Maria que ela estava cuidando diretamente da sua evangelização e que eu podia confiar e seguir fazendo a parte que me cabia.

As delicadas sementinhas cristãs nele plantadas não encontraram maiores obstáculos em casa. As poucas vezes nas quais o pai levantou argumentos e questionamentos contra Deus o que fiz foi silenciar, atuar com a santa tolerância e paciência e entregar a delicada questão a Maria e a Jesus.

Passei a ter plena confiança na evangelização dos meus filhos em parceria com os Céus. Nada seria perdido, nenhum grão de esforço e devoção.

Mas tudo seria no tempo de Deus e não no meu.

O que vale e permanece é o Amor

Retornado do hospital ao lar não demorou para que meu bebê voltasse a acordar de madrugada. Como o esposo trabalhava viajando, era comum eu estar com as crianças por vários dias e noites consecutivas.

Até então eu o ninava, oferecia leite ou ficava com ele até que voltasse a dormir e o retornava ao berço, quando voltava para minha cama.

Numa madrugada ele despertou e o trouxe para a minha cama. Sentia paz e profundo amor em meu coração. Fizera aquilo com naturalidade e sem qualquer dúvida interior. Dormimos.

Na hora estranhei a forma como me senti e me conduzi, pois eram tão diferentes das anteriores. Jamais havia permitido que o bebê dormisse na cama do casal movida pelo pensamento de não o desacostumar do berço. Seguiria fazendo do jeito anterior pelo período que fosse necessário ainda que desconfortável.

No dia seguinte segui preenchida por sentimentos intensos de paz e amor que me fizeram conceber aquela fase da minha maternidade e do bebê com outras lentes: as do Amor. Entendi com clareza que até então interiormente insistia contra o curso da natureza, que é o bebê despertar a noite pedindo a presença dos pais.

Quantos outros sofrimentos eu deveria ter vivido na minha vida os quais era eu mesma a responsável simplesmente por não permitir que o Amor fluísse e por si resolvesse tudo?

Encontrei paz naquele aspecto da minha vida* e não demorou para que começasse a enxergar aquele mesmo Amor, sob forma de graça, estendendo-se para outros aspectos do meu dia-a-dia com as crianças. 

Meu modo de ser se caracterizava pelo comprometimento com os detalhes que envolviam a vida das crianças em termos de horários, vestuário, alimentação, saúde, compromissos, correções e lazer. Quem é mãe sabe o quanto a disciplina para cumprir com tantos requisitos em tempo hábil pode exaurir a tal ponto de nos deixar mais vulneráveis e acabar descontando nas crianças - o que não é bom pois, além de ferir suas sensibilidades nos faz adquirir um peso na consciência.

O que se sucedeu foi que notei desabrochar naturalmente em mim uma mudança naquela velha forma de pretender exatidão em tudo para a aceitação de um desenrolar dos fatos não necessariamente perfeito, porém satisfatório e no qual estivesse permeado pelo elemento Amor. Que em todas as tarefas rotineiras eu fizesse com que as crianças se sentissem amadas.

Isso porque, ao final, cresceriam desta ou de outra forma, mas o elemento Amor que eu conseguisse que fosse semeado em seus corações dia após dia, este eles levariam para o resto de suas vidas.

Nota:

*O esposo nem tanto, mas seguimos todos envolvidos numa atmosfera de “Amor Maior descido sobre nós” que nos sustentava e no qual confiava.

 

Doçura de Maria

Num determinado dia notei que em meu ambiente familiar passara a pairar uma harmonia diferente. Mas não era só harmonia, havia algo a mais. Meditando à noite antes de dormir sobre o que seria ocorreu-me o que era: doçura.

Conseguem conceber o que seria o elemento doçura em um lar?

Foi assim que Maria apresentou-me sua doçura: espargindo-a em meu lar.

Passei a “captar” sua presença velando sobre o mesmo.

Por isso a louvava, reconhecia e agradecia.

 

Obediência a Deus

Meu filho estava com cinco anos, idade bem marcada pela desobediência e afrontamento aos pais o que exige destes uma sucessão de intervenções diárias.  Dada a frequência da demanda, por vezes eu relevava.  O caso dele se agravava pelo fato do irmão de um ano estar na fase de querer tudo, fazer birras intermináveis, insistir na “desobediência” e fazer bagunça.

Até que li a seguinte mensagem de Jesus à beata norte-mericana:

"Quero que minhas almas escolhidas reflitam sobre o valor da obediência. É somente através da obediência que eu posso leva-los à perfeição interior. O mundo atualmente despreza a obediência.  Até as crianças não obedecem aos seus pais e não são punidas pelas suas transgressões (...)” (Mensagem de 24/06/2003, Pensamentos sobre a espiritualidade)

No dia seguinte diante do meu filho fui tocada por uma compreensão maior. Que eu não desdenhasse ensinar-lhe sobre obediência e dedicasse a esta tarefa elevado grau de responsabilidade, pois naquela idade ele aprenderia a obedecer a mim para no futuro quando adulto obedecer a Deus.

Que eu como mãe alcançasse autoridade sobre meu filho, que ele se curvasse, se submetesse e respeitasse a mim, pois além destes constituírem para ele uma defesa poderosa diante dos perigos da juventude e do mundo, o faria melhor preparado para quando chegado seu tempo se curvar em obediência a Deus.

 

O meu “sim” a Jesus

Por meio de outra mensagem de Jesus dirigida à beata norte-americana descobri que eu deveria da mesma forma que ela haver dado o meu “sim” ao Senhor inúmeras vezes em minha vida antes desta última internação, provando que estava pronta para recebê-lo em minha vida, segui-lo e servi-lo.

Você vê, minha filha, que você e eu, nós estamos juntos há muito tempo. Eu trabalhei de modo escondido em sua vida durante muitos anos antes de você começar este trabalho. Ana, como lhe amo. Se você olhar para sua vida, você poderá notar nela tantos sim que você me deu. Isto não lhe agrada, isto não lhe alegra? Você começou a dizer sim muito tempo antes de começar a viver graças extraordinárias. Se você não tivesse agido assim, minha querida, Eu não poderia nunca lhe dar estas graças nem lhe confiar esta missão. Veja como foi importante que você tenha se levantado todos os dias de sua vida ordinária, e que você tenha dito sim ao seu Deus, apesar das dificuldades, as tentações e as provações?” (Mensagem de Jesus para Anne, após ela ter escrito sua biografia, Pensamentos sobre Espiritualidade)

Voltando o olhar para trás, pude conceber os inúmeros “sins” que eu havia dado a Jesus em vários momentos da minha vida, principalmente nos mais difíceis nos quais, com pureza no coração, mantivera a escolha pelo bem, não medira esforços para alcançá-lo e mantivera-me persistente a toda prova e, ainda que caído, havia me levantado e nunca desistido de oferecer o meu melhor.

Pensar nisto alegrou meu coração.

***

Mas o maior “sim” de todos quem deu foi Maria.

Deu-o a Deus ao receber a notícia de que receberia em seu ventre o salvador e quando o entregou ao Pai para que se cumprisse em Jesus a sua vontade e não a dela. A superioridade dos “sins” de Maria propiciou a salvação de toda a humanidade.

Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra.” (Lucas 1, 38)

Hoje não nos é tão difícil nos voltarmos à vontade do Pai, pois temos a referência e o exemplo deixados por Cristo. Mas no tempo de Maria ela o fez sem nenhuma referência, encontrava-se só e diante do Pai. Por este exemplo conseguimos intuir a estatura de sua santidade e o lugar que ocupa no Céus.

 

O Terço Mariano

Maria promete graças a quem reza o Rosário com devoção todos os dias (esta informação encontrei na internet). 

Estou falando de promessa e a querida mãe é fiel. Na minha realidade de mãe, esposa e terapeuta não dispunha de tempo diário para rezar o Rosário, mas sim o Terço Mariano que requer aproximadamente 20 minutos. Preferia me comprometer diariamente com algo que conseguisse levar adiante do que iniciar algo maior e depois descumprir. E o compromisso que assumia com Deus era da maior seriedade para mim.

Testemunho as graças recebidas em minha vida a partir da oração do Terço, que se tornou uma das minhas disciplinas cristãs mais valorizadas. Recomendava-a a todos. Apenas experimentando é que é possível atestar seu valor. Não era fácil, requeria disciplina e comprometimento diário. Mas a colheita compensava e vinha sob forma de proteção e crescimento em Cristo. Orando o Terço abria-se um canal direto com os Céus e por meio deste podia apresentar meus anseios, questionamentos e até súplicas e, em especial, minha adoração, reverência, gratidão e profundo respeito. Esta era a forma como vivenciava internamente.

Mediante a oração experimentei crescimento pessoal na forma de fazê-lo. Antes, rezava o Terço para as minhas intenções, mas aos poucos fui introduzindo a intenção de outras pessoas e mais outras. Assim, dentro da minha oração entraram muitas pessoas. O coração seguiu expandindo e fui colocando em intenção as diversas categorias de pessoas em sofrimento no mundo todo, já pedindo pela humanidade. De repente dei-me conta que meu problema era tão pequeno e nem era um problema. Passei a agradecer por não ter problema e por ter Deus em minha vida, por já estar salva. Desde então meu compromisso diário com o Terço adquiriu hierarquia por causa de todas aquelas pessoas colocadas em intenção além de mim mesma. 

Um dos principais sentimentos que me moviam a orar o Terço era fazê-lo para aqueles que não o estavam fazendo para si próprios, fosse por desconhecimento ou por estarem afastados de Deus. Apresentava a Maria e Jesus esta intenção no início e pedia-lhes que distribuíssem as bênçãos a quem quisessem tendo em vista que eu não sabia quem seriam as pessoas. Orava movida pelo sentimento de como me sentiria feliz se houvessem orado para mim quando eu mesma não fazia.

Mas inicialmente eu não sabia rezar o Terço. O primeiro que rezei no hospital foi o de Cura e libertação num momento de extrema dor. Depois o da Misericórdia. Bem aos poucos fui me envolvendo, entregando-me, confiando, recebendo graças e passando a respeitá-lo profundamente. Fui conhecendo outros Terços até chegar ao Mariano. Quero com isso expressar que a caminhada cristã é gradativa. Parte-se do nada e avança-se aos poucos.

Até nos dias presentes continua sendo assim.

 

Como se reza?

Eu não sabia rezar. Minha oração era fria, curta e com total descrédito, um monólogo fatigante. E eu queria aprender para pedir minha cura e ter certeza que Deus me escutaria. Mas me parecia algo tão distante e misterioso.

Assim, aprender a rezar no hospital tornara-se uma necessidade profunda para mim. “Como que se faz isso?”

Um dia uma amiga me trouxe inspirada pelos Céus o livro Pedi e obtereis, que possui inúmeras orações. Foi um excelente começo. Agradeci e deixei-me levar por aquelas orações.

Aos poucos fui substituindo as orações lidas pelas que saíam direto do meu coração. Estava aprendendo a orar por mim mesma e a falar com Deus.

Passei a acordar com uma necessidade imperiosa de orar, entrar em contato com os Céus para me alimentar, agradecer, louvar, pedir e suplicar. Enquanto não orava a sensação não passava.

 

Uma questão de fé

A fé também era algo estranho para mim. Eu não sabia ter fé.  Eu não conseguia entender como as pessoas conseguiam ter fé. O que elas tinham de diferente de mim? Eu atribuía sua causa a não haver sido ensinada desde o berço. No entanto, ter fé havia se tornado para mim uma necessidade interna profunda.

Mas o eu queria mesmo era ter fé na cura, pois me lembrava de várias passagens da Bíblia na qual Jesus dizia que a fé que eles tiveram os havia curado. Então eu queria aprender a ter fé para que esta me curasse também.

A partir deste desejo tão curto, limitado e imediatista foi surgindo e crescendo dentro de mim uma fé maior, baseada nas graças que ia recebendo diariamente de Deus no hospital e nas soluções em resposta às súplicas que fazia ao orar. Aos poucos tudo foi se revelando como real. Uma via de mão-dupla fora estabelecida entre mim e os Céus e aos poucos fui confiando no que estava para além da minha visão.

Da confiança à certeza - isto é fé.

E da certeza absoluta, à fé fervorosa. 

Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não veem.” (Hebreus 11, 1)

Era gracioso constatar os pacientes e acompanhantes que Jesus trazia ao meu quarto para exemplificar dentro de diferentes religiões diferentes níveis de fé e religiosidade. Níveis diferentes de entrega, adoração, serviço e até consagração.

O exemplo fixa mais que mil palavras.

Compreendi que o caminho da fé devia-se percorrer individualmente de modo que ninguém podia passar a própria fé para ninguém, mas inspirar o outro para que a perseguisse por si próprio. Assim era o caminho natural no qual questionar e duvidar inicialmente eram normais e, a partir disso, iniciavam-se as buscas.

As buscas por Deus e pelas suas coisas devem ser todas ativas.

 

Bíblia: tesouro de Deus velado ou revelado?

Já mencionei a sede que tinha bem antes da última internação de aprofundar meus conhecimentos sobre Jesus. No entanto considerava impossível ler a Bíblia.

Esta representava para mim palavras enigmáticas, difíceis de serem decodificadas e que exigiriam muito trabalho. Além disto, quem me garantiria que minhas interpretações estariam corretas? Por isso tentava em vão encontrar leituras sobre Jesus que me ajudassem no dia a dia a seguir seu exemplo.

Até que veio ainda no hospital grande graça. Uma pessoa da igreja que Jesus trouxe para realizar em mim uma cura e libertação do passado me indicou o livro A Bíblia no meu dia-a-dia. Disse que este me ajudaria a entrar em contato com a Palavra diariamente e por meio de um método a escrever um diário espiritual que me traria, segundo seu próprio testemunho, "notório crescimento espiritual em Cristo.” Tão logo saí do hospital iniciei.

Aquele pequeno livro continha um método simples e grandioso. Seu autor, o padre Jonas Adib, informou que o método fora fruto de “inspiração divina e graça dos Céus” e que sua difusão vinha transformando a vida de muitas pessoas.

Comprovei as verdades que me foram anunciadas e deixo aqui meu testemunho com a esperança de que muitos se beneficiem.

O método me permitiu aprofundar nos conteúdos bíblicos de modo que estes foram se misturando à minha própria vida. Passei a interpretar minha vida dentro dos conteúdos bíblicos e vice-versa – o que por si só já haveria sido enorme ganho.

Mas o método foi além, fazendo com que os conteúdos bíblicos fossem se revelando e desdobrando dentro de mim num belíssimo tesouro. Auxiliada pelo Espírito Santo segui aprofundando nas compreensões e recebendo luzes para meu crescimento pessoal e sobre como ajustar-me e conduzir-me no dia a dia para a obra do Senhor.

Logo, o conceito que possuía a respeito da Bíblia mudou. Passei a considerá-la como magnânima obra de Deus velada e guardada a sete chaves!

Passei a concebê-la como palavras mortas para alguns, palavras que encerram mensagens elevadas para outros e o mais sublime manancial aguardando ser descoberto e usufruído por aqueles que se empenharem verdadeiramente em buscar e conhecer a Deus.

Fazer o diário espiritual se tornou uma necessidade do meu espírito. Passei a acordar sentindo imperiosa necessidade de entrar em contato com a Palavra, de alimentar-me e nutrir dos ensinamentos do Senhor. Enquanto não o fazia a sensação não me deixava.

Padre Jonas Adib testemunha assim:

 “Graças a Deus, não poso negar: a Bíblia faz parte da minha vida. Ela se tornou carne de minha carne e osso dos meus ossos. Eu comi, mastiguei, diferi, ruminei, assimilei a Palavra de Deus como um alimento. Hoje ela é como sangue que corre em minhas veias.” (A Bíblia no meu dia-a-dia, contracapa)

Assim diz Jesus:

Meu filho, quando lês a Escritura ficas familiarizado com a forma como Eu vivi. Deves fazê-lo todos os dias e, através da escritura, vais aprender muito sobre Mim. Os dias passarão, e a tua vida abrir-se-á diante de ti e ver-te-ás transformando-te em Mim. Verás o teu coração ser tocado por sentimentos de piedade em relação à humanidade, tal como o Meu coração foi tocado. Aceitarás o sofrimento que te é infligido com dignidade e compreensão e não procurarás a vingança. Sim, tu mudarás. E a mudança é o que procuramos juntos. Não poderás ficar o mesmo e tornares-te santo. Isso seria impossível. O próprio chamamento para a santidade, e sei que tu, Minha pequenina alma, compreendes que é para ti que estou a falar, exige mudança. Estás no caminho em direção à santidade; foi o que Eu predestinei para ti.” (Conversas com o Sagrado Coração de Jesus, p.55)

 

Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo,

tome a sua cruz e siga-me

Já fora do hospital pude ajustar um pouco mais minha compreensão e postura diante de Cristo a partir de suas palavras:

"Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8,34)

Então não se tratava apenas de troca do tipo você me dá as suas coisas e eu te dou as minhas. Nada disto.

Jesus diz de forma clara que se eu quisesse segui-lo deveria assumir minha própria cruz, carregá-la e caminhar. Ou seja, não deveria fugir e sim abraçá-la e aceitar a vontade de Deus, pois era o meio pelo qual eu alcançaria minha purificação e salvação.

Mas Jesus também diz “tome a sua cruz e siga-me”, ou seja, “assuma e carregue a sua cruz ao meu lado, comigo, seguindo-me. Não pretenda carregá-la sozinha, pois será pesada demais”.

E mais: "Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo...” Para mim nisto estava encerrada toda uma postura cristã que é a da renúncia das próprias vontades, dos próprios caprichos e das próprias posturas defeituosas para:

1) obedecer à Vontade do Pai e não à própria vontade e

2) servir aos demais, ao invés de servir a si mesmo.

 

1) Obedecer à Vontade do Pai e não à própria vontade

Quais eram as minhas vontades diante das coisas que vivia? Quais eram meus interesses, pensamentos, sentimentos e, principalmente, comportamentos e como estes afetavam a minha vida e a dos que comigo viviam? Quantas vezes a minha forma de me comportar era estreita, defeituosa e egoísta? Tinha assim postas as minhas vontades.

Dentro destas situações, qual seria a vontade do Pai para mim para que eu fosse instrumento útil de sua obra na Terra? Pois então, eu deveria buscar atuar conforme a sua vontade e não a minha, tendo plena confiança de que agindo desta forma estreitava minha aliança com ele. Estava a seu serviço.

Aquilo era algo grandioso. Muitas vezes era possível e gratíssimo ao coração. Noutras difícil e travava lutas tremendas dentro de mim pela dificuldade de substituir a minha vontade egoísta e defeituosa pela do Pai e confesso que nem sempre conseguia, pedindo-lhe desculpas. Assim seguia caminhando e entregando, sendo esforçada e também sincera em minhas capacidades.

Para exemplificar apresento as palavras do Padre Marcelo Rossi que disse que muitas vezes planejava determinado conteúdo para uma pregação e então “vinha Jesus e a mudava toda”, completando: “Jesus manda, eu obedeço, não questiono.”

Era esta a postura de obediência e fidelidade ao Alto que devíamos buscar em nossas vidas.

Na oração do Pai Nosso dizemos “que seja feita a sua vontade assim na Terra como no Céu...”. Temos real consciência do que dissemos ao Pai?

Pois desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.” (João 6, 38)

 

2) Servir aos demais ao invés de servir a si mesmo

É normal cada um se colocar como prioridade na própria vida e isso encontra raízes na sobrevivência. Nos tempos atuais estes aspectos estão agravados, pois estamos inseridos numa cultura egocêntrica e individualista. E o que representaria então dar mais prioridade ao próximo do que a si mesmo? Olhar para o próximo com o mesmo grau de atenção e interesse com que se olha para si mesmo?

Bem, é exatamente desta forma o que Deus espera de nós. Que nos despojemos de nós mesmos de tal modo que o outro se torne prioridade em nossas vidas. E nos doemos. Isto envolve renunciarmos a nós mesmos, as nossas necessidades e caprichos para oferecer ao próximo algo que possa lhe ajudar. Falamos de auxilio material, mas também do espiritual e moral que às vezes se resume em escutar os problemas do outro, acolhê-lo emocionalmente, aconselhar de modo que consiga carregar melhor a própria cruz ou orar pela pessoa.

Não se trata de salvar o outro da própria cruz, de querer livrá-lo da mesma, pois somente Deus tem esta autoridade, além do fato de a mesma ser o caminho individual para sua purificação. No entanto é nosso dever ajudar o próximo para que ele próprio consiga melhor carregá-la.

E como se faz isso? Atendendo-o em suas necessidades. A doação de si mesmo aos demais é a maior caridade de todas e isto pode ser realizado sob muitos aspectos. Por exemplo, no doar ao outro o tempo que se dedicaria a si mesmo sacrificando as próprias necessidades está um ato de amor e de louvor.

Dando outro exemplo: ao acordar pela manhã ou em algum momento do dia voltava-me aos Céus e dizia: “Senhor, estou à sua disposição. O que queres que eu faça?” Ligava minha “antena” e ia servir a Jesus. Aprendi que serviço era o que não faltava. Havia demandas para todos os lados, bastava que abrisse os olhos para enxergar, o coração para captar e partisse para a realização.

Desde que passara a voltar-me para os demais percebi que todos tinham problemas, incluindo a mim. Mas era interessante o que ocorria quando começava a me fidelizar às causas do Senhor. Ele ia agindo sobre mim, expandindo meu coração e minha compaixão pelos demais até chegar a um ponto no qual, ainda que estivesse vivendo um problema, sentia que não podia deixar de atender ao problema do outro por causa do meu. Simplesmente não podia me estacionar numa postura de ostracismo. 

O que fazia então era entregar meu sofrimento ao Senhor e lá ia ajudar no sofrimento do próximo. Não seria esta uma grande caridade, a de priorizar o próximo em detrimento de si mesmo? Até os meus problemas comecei a renunciar para atender os problemas dos demais e com o coração exaltado de alegria.

***

Tão logo me senti em condições após a alta hospitalar voltei a levar o filho mais velho para andar de bicicleta numa praça. Chegando lá pensei em aproveitar o momento para rezar o Terço a Maria. Estava em forte sofrimento. Peguei o Terço, voltei meu olhar para o céu e comecei. Aquele não era nem o lugar nem o momento ideal, pois havia movimento, barulho, distrações e eu tinha que de minuto a minuto localizar meu filho por segurança. Apresentava a Maria minha dor, lhe agradecia e louvava, mas também repreendia-me pedindo desculpas por aquele não ser um momento ideal para aquele ato que me infundia tanto respeito.

O Terço não havia terminado quando uma mulher com roupa de cooper se aproximou de mim, apoiou uma das mãos em meu ombro, olhou nos meus olhos e disse:

“Você não me conhece, mas eu sei que você está sofrendo e eu vim te falar que eu estarei em oração por você”*.

Tomada de surpresa, tudo que consegui lhe dizer era que naquele momento rezava o Terço. Ela pediu para dar-me um abraço, o fez e partiu para reencontrar com os amigos. Tudo foi muito rápido.

Aquilo tocou no fundo da minha alma.

Primeiro porque Maria acabava de me enviar um sinal de que, além de me escutar, ainda que eu estivesse a me repreender, me acolhia.

Segundo pelo testemunho vivo daquela desconhecida de sua disposição ao serviço a Deus e da obediência à sua vontade e não a dela. Eu percebera que ela estava tímida e tinha a voz trêmula, pois partira em minha direção sem conhecer-me e sem saber nada a meu respeito, apenas confiando em Nossa Senhora.

Seu exemplo se fixou em mim de forma indelével inspirando-me a coragem de lançar-me em auxílio ao próximo mesmo não o conhecendo e ‘no escuro’, com o olhar e o coração fixos no Alto. Aprendi a não emitir nenhum julgamento a respeito do próximo, pois dele somente sabia Deus e usaria a mim como instrumento.

***

Rezava diariamente o Terço Mariano e a partir do momento em que me senti tocada pelo sofrimento de determinadas pessoas iniciei Terços específicos para cada uma delas... Assim cheguei a rezar quatro Terços diários (Mariano, Cura e Libertação, Misericórdia e da Nossa Senhora Desatadora dos Nós). Como meus horários eram sempre muito apertados, cheguei a firmar diante de Deus que somente rezaria o meu depois de haver rezado o das outras pessoas. Se fosse para sacrificar alguma oração por falta de tempo ou excesso de sono que fosse a minha e não a dos demais. Estava ali também uma caridade.  Ao final, isto me possibilitava rezar para eles e para mim.

Não será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Marcos 10, 43-45)

Quanto à renúncia a si mesmo nesta vida, grande é a promessa de Jesus:

"Porque o que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas o que a perder por amor de mim e do Evangelho, irá salvá-la."(Marcos 8, 35)

Nota:

*Ao contar para minha amiga devota ela disse que Maria havia usado aquela mulher para me dizer que estaria em oração por mim. Meses depois compreendi que a boa Mãe intercede por nós junto a Deus e Jesus Cristo por meio de oração.

 

Uma hora extra para Jesus

Sempre adorei dormir. Até chegarem os filhos e o fato de ter que acordar no meio da noite para atendê-los, ainda que ciente do caráter temporário, fazia-me sofrer.

Contava as horas de sono acumuladas na expectativa de poder reavê-las.  Recordo do conselho da minha irmã de desprender-me do sono de tal forma que o que não houvesse dormido, não dormiria mais e pronto. Isento de sofrimento. Tratava-se de um bom conselho, porém difícil de ser colocado em prática.

Por isto volto a dizer que os planos de Deus para cada um são tão perfeitos. O que Deus, pois, fez comigo?

Submeteu-me durante 85 dias a um leito de enfermaria. Pelo fato da minha internação ser prolongada, o outro leito era usado por pacientes de curta permanência o que resultava em alta rotatividade. Minha última medicação era às 22horas e somente às 6horas do dia seguinte seria reiniciada o que na teoria me daria um repouso satisfatório. Mas isso apenas na teoria porque na prática acontecia o contrário.

O movimento noturno era intenso com a chegada de pacientes, entrada e saída de enfermeiros para medicação, luzes acesas, banho, barulho, pacientes passando mal, queixando de dor ou conversando, isso quando não roncavam eles ou o acompanhante. Dado isto não era possível ter um período de sono ininterrupto por noites consecutivas. E as horas de sono não dormidas não eram recuperadas e os dias precisavam seguir seu curso. Lancei mão de recursos como tampão de ouvido e venda nos olhos para ajustar-me a circunstâncias.

Desta forma fui aos poucos forçosamente resignando diante dos incômodos e aprendendo a abrir mão do meu sono sem sofrer, a desprender-me e viver meu dia normalmente com ou sem sono e mantendo boa disposição. Ou seja, o que não havia alcançado fazer com meus dois filhos, Deus fizera-me aprender com pessoas outras.

***

Tão logo retornei do hospital notei que aquela velha postura estava transformada. Segui sacrificando horas de sono por causa do bebê e logo me dei conta que as estava sacrificando também por Cristo (nesta época, mais por necessidade espiritual do que por amor).

A hora de dormir era o único tempo extra que tinha para orar, ler a Bíblia e fazer o diário espiritual, receber a benção de Jesus através de um padre ou assistir a alguma pregação pela internet. Em muitas situações usei este tempo para acolher e evangelizar pelo celular alguém em sofrimento.

Jesus sabia que para que conseguisse trilhar ao longo dos tempos uma caminhada com ele eu teria que amadurecer aquela velha forma de lidar com o sono. Aprender a perdê-lo sem sofrimento, com serenidade, em espírito de alegria, devoção e até sacrifício por ele.

Fato é que desta forma eu havia criado mais horas no meu dia para me dedicar à fidelização e ao crescimento em Cristo. Ao sacrificar uma hora de sono por dia, no final do mês totalizavam 30 horas, o não- que não era nada mal e fazia enorme diferença quando se pensa no ganho em comparação com o sacrifício. Quando pensava que um dia iria morrer estas horas se tornavam ainda mais valorizadas porque um dia vamos todos morrer, impreterivelmente.

 

Um chocolate a menos e uma hora de sono a menos para Jesus

Pouco tempo antes minha amiga devota havia compartilhado comigo que estava com imensa vontade de comer chocolate, mas havia decidido não comer e ofereceria este sacrifício a Jesus, pois segundo ela “ele usa nossos sacrifícios pessoais para salvar almas”. Ela já havia me dito que oferecesse a Jesus como sacrifício aquelas horas de sono as quais me abstinha.

Após abster-se do chocolate minha amiga foi assolada por uma dúvida: “será que aquilo era válido mesmo?” E ao abrir aleatoriamente uma página do seu livro de cabeceira A Verdadeira Vida em Deus, eis a mensagem que recebeu do Senhor:

Quero que meus filhos saibam que toda mortificação dos sentidos e do corpo é usada por Mim em Obras Celestiais; sirvo-Me de vossos sacrifícios para libertar almas do Purgatório; aqueço corações na Terra para sua conversão; purifico sua alma; tudo o que me ofereceis é usado para reparações (...). Minha Misericórdia é Grande.” (A Verdadeira Vida em Deus, mensagem de 30 de setembro de 1989)

 

Para que se ater aos detalhes?

Além de Deus ser preciso em nossas vidas desejo explicitar que ele cuida dos detalhes. Mostra-nos que estes também são para ele importantes. E estamos falando de Deus em toda sua grandeza.

Com tantos dias vividos no hospital foi quase no final que me dei conta que o número do meu quarto era 33. Mera casualidade? Naquela altura das minhas constatações, certamente que não.

Com quanta graciosidade somos cuidados. Podia imaginar a imensa logística a mais de Deus para que eu fosse internada naquele quarto.

Tudo era muito fácil para ele. Da sua parte quanta delicadeza, zelo, cuidado e amor.

 

Magia negra e feitiçaria

Não escreveria a respeito de magia negra e feitiçaria. Mas na medida que até isto se insere no plano perfeito de Deus para mim que tem como objetivo o meu crescimento, então tudo ganha outro sentido e sinto-me no dever de compartilhar.

Estava poucas semanas internada quando Deus revelou em minha mente que um trabalho de magia negra havia sido feito para me manter ali (entre outras questões) e a pessoa que havia feito. Naquela altura meu sofrimento adquiriu um tônus a mais além da enfermidade. Surgira um componente espiritual no meio de tudo aquilo. Mais angústia em meu coração e mais alguns dias para processar aquela informação.

As feitiçarias haviam acontecido ao longo de todos aqueles anos com o objetivo da doença persistir, me colocar no hospital e me tirar da minha vida. Compreendido este aspecto, a questão que passou a ressoar era: “Por qual motivo Deus desta vez me permitia saber?” Eu tinha de, antes de tudo e doesse o quanto doesse, aceitar que Deus queria que desta vez eu soubesse. Mas para quê?

Certamente não era para que ficasse presa no sofrimento, no temor e muito menos na raiva. Mas para que encarasse aquela dor e caminhasse para frente. Não sozinha, mas com ele.

No altar do meu coração eu tinha uma certeza: não era para desejar o mal para a pessoa que havia feito, mas para orar para a mesma.

 

Amai vossos inimigos

Amai vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem.” (Mateus 5, 44)

Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis?” (Mateus 5, 46).

Amar quem nos ama é fácil, difícil é amar aquele que quer o nosso mal. Certa vez li que “nossa forma de amar é condicional, ou seja, só amamos alguém se este alguém nos ama e durante o tempo que nos ama, mas a partir do momento que a pessoa retira seu amor por nós, retiramos em seguida o nosso”.

Se acontece desta forma com quem nos ama que dirá com aqueles que nos querem mal?

Jesus veio nos ensinar sobre o amor incondicional. Aquele que ama independente do que o outro fez, reconhece que cada um também tem pecados e que somos filhos de um mesmo Pai.

Pai este que: “Faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos.” (Matheus 5, 45)

Em oração pela pessoa foi-me revelado que ela teve seus pedidos alcançados por diversas vezes ao longo de anos, mas que daquela vez não os teria. Assim Deus lhe mostraria que ela não pode controlar a vida das pessoas ao bel-prazer, pois isto pertence exclusivamente a ele. E que tendo os desejos não satisfeitos, reconheceria a vontade de Deus para sua vida e para a dos demais e se curvaria, ajustando sua conduta moral e melhorando-se espiritualmente.

Aquilo me fez lembrar uma frase que diz que “satanás pode até vencer algumas batalhas, mas a vitória já a tem de Cristo.”

Compreendi que Deus permite que satanás ganhe batalhas para ver até que ponto pode chegar o mal nas pessoas, mas a vitória final já a tem Cristo e devemos nisto confiar. No final, a vitória sempre será do Amor e do Bem.

Foi-lhe dado (à satanás), também, fazer guerra aos santos e vencê-los.” (Apocalipse 13, 7)

Do trono saiu uma voz que dizia: ‘Cantai ao nosso Deus, vós todos, seus servos que o temeis, pequenos e grandes’. Nisso ouvi como que um imenso coro, sonoro como o ruído de grandes águas e como o ribombar de possantes trovões, que cantava: ‘Aleluia! Eis que reina o Senhor, nosso Deus, o Dominador.” (Apocalipse 19, 5)

Sem outra opção

A questão de como e quando sairia do hospital se agravara pois, além do aspecto físico, havia também “forças do mal” a manter-me internada. Isto aumentou meu medo. Para mim a única solução seria ir a um benzedeiro para que ele me “libertasse”. Mas quando finalmente teria alta passados os primeiros 30 dias, a pele da cabeça rompeu e a alta foi suspensa. Meu sofrimento agravou pois não poderia mais ir naquele que era o “único que poderia me ajudar”. Não havia na minha família ninguém a quem pudesse recorrer - pai, mãe, irmãos ou esposo, pois ninguém dava atenção a isto.

Deus não permitiu de forma alguma que eu fosse presencialmente a um benzedeiro e eu percebia isso. Pelo contrário, reteve-me “só” no hospital. Qual seria então o único meio do qual poderia me valer?

Da oração. Era por meio desta que me desafogava com Deus, suplicava e ele me sustentava. Seguia avançando e sendo auxiliada pelas pessoas que ele colocava em minha vida. Quanto mais temia aquilo tudo, mais permanecia em oração.

***

Uma pessoa que havia passado por diversas cirurgias havia me dito que em oração Deus lhe havia revelado seu médico anterior com os braços cruzados, significando que ele não resolveria seu problema de saúde e que deveria trocar de profissional. Assim fez e conseguiu ser tratada devidamente.

Eu aguardava meu médico há dias para encaminhar uma questão importante.  Em oração eu mesma visualizei, por revelação, meu médico com os olhos e a boca vendados e os braços amarrados. Aquela pessoa disse para que eu em oração visualizasse o contrário, ou seja, meu médico entrando no meu quarto alegre, falante e resolvendo a questão comigo e rogasse a presença dos anjos, colocando-os ao redor dele. Fiz isto e meu médico veio e encaminhou a questão para meu feliz assombro.

Isso aconteceu por duas vezes e, somadas com outras coisas, foram ensinando-me  o poder da oração e a seguir com uma postura limpa aos olhos de Deus dia após dia.

 

Em batalha espiritual

Mas mesmo dando alguns passos para frente a questão da feitiçaria me trazia desassossego. Num momento roguei a Deus perguntando: “Diante daquelas forças que eram invisíveis como poderia eu lutar se eu era de carne e não as enxergava? Como não ficar à mercê delas?”

A resposta que me veio à mente foi: “Para o mal que é de natureza espiritual, deve-se contrapor o bem que é da mesma natureza por meio da oração.” Levei um susto de alegria. Fazia sentido.

Se existia uma legião de espíritos maus sobre mim, eu ia não apenas orar, mas “levantar” muitas pessoas para orar para mim. Selecionei algumas de confiança e com discrição pedi-lhes oração para mim e para a pessoa que me desejava mal. Senti-me mais aliviada e segura.

Pouco tempo antes uma paciente tivera alta e deixara-me de presente, inspirada pelos Céus, o livro Batalha Espiritual -Entre Anjos e Demônios do Padre Reginaldo Manzotti. Sabia que havia chegado o momento de lê-lo. Esta obra contribuiu muito para meu crescimento, pois o padre afirma que “a verdadeira batalha que todos nós travamos não é com as pessoas físicas, mas com os seres satânicos que estão no ar e que querem nossa destruição e o separatismo: eis a batalha espiritual que deve ser travada”.

Diante disto a cada um era dado o poder de munir-se com armas brancas, entrar e travar esta luta, porém no time de Jesus.

Vistam toda a armadura de Deus, para poderem ficar firmes contra as ciladas do Diabo, pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais.” (Efesius 6, 11-12)

O panorama mudara consideravelmente. Eu não tinha mais de ser vítima passiva da situação. De repente estava diante de uma batalha espiritual e chamada a lutar no time de Jesus. Ao final de cada capítulo do livro havia orações específicas e eu ia me valendo delas.

Passei a rogar com fervor o auxílio de São Miguel Arcanjo e de seus anjos defensores, de Maria e de Jesus. Fui aprendendo a orar, a afastar todo e qualquer maligno “em nome de Jesus”, a visualizar os anjos e santos descendo e me protegendo, Maria Santíssima pisando na cabeça da serpente e cobrindo-me com seu manto protetor, os espíritos malignos sendo apartados de mim por uma corrente de luz branca ou de uma corrente de anjos e sendo “derrubados aos pés da cruz de Jesus, onde lá ficariam e conheceriam o seu poder”. Segui meus dias orando, pedindo e confiando.

O aprendizado alcançado no final foi muito grande. Para as questões de ordem espiritual, aquelas às quais eu simplesmente não conseguia resolver pelas minhas próprias mãos, a estas devia rogar ajuda dos anjos, santos, de Maria, Jesus e de Deus mesmo, pois este tipo de seara a eles pertence. Era com eles mesmo que sempre deveria contar.

 

Jesus tem poder

Segui em batalha espiritual e oração temendo que o maligno me retivesse no hospital não sabia por quanto tempo, quando Jesus de uma hora para outra me mostrou seu poder dando-me alta e tirando-me dali no dia do meu aniversário, manifestando quão infinitamente maior ele é do que qualquer feitiço ou legião de seres satânicos trabalhando para o contrário.

E que, da mesma forma, deveria dali por diante nele confiar.

Há muitas passagens na Bíblia na qual Jesus ordena aos maus espíritos que se afastem dos homens e mulheres feitos por eles prisioneiros. O mais interessante é que eles reconhecem sua autoridade e prontamente o obedecem, afastando-se e libertando as pessoas.

Justo naquele momento, na sinagoga, um homem possesso de um espírito imundo gritou: "O que queres conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos destruir? Sei quem tu és: o Santo de Deus!"

"Cale-se e saia dele!", repreendeu-o Jesus.

O espírito imundo sacudiu o homem violentamente e saiu dele gritando.

Todos ficaram tão admirados que perguntavam uns aos outros: "O que é isto? Um novo ensino - e com autoridade! Até aos espíritos imundos ele dá ordens, e eles lhe obedecem!" (Marcos 1, 23-27)

Se até satanás reconhece o poder e a superioridade de Cristo como eu não  reconheceria?

Sinal de Deus para mim

Após a alta seria natural que reduzisse a prática das orações e da vigilância diária afinal, aquilo tudo havia acabado, mas me parecia lógico que a referida pessoa, insatisfeita com o resultado encomendaria novas magias para prejudicar minha saúde pretendendo retornar-me ao hospital (e no fundo como já mencionado eu ainda duvidava da cura). Intensifiquei minhas orações e tão logo pude fui ao benzedeiro, pois acreditava que ele ajudaria a livrar-me definitivamente das investidas do maligno.

Fui acolhida com boa vontade e ele disse que já se encontrava em oração por mim à distância a pedido de um casal que havia conhecido no hospital. Fez orações invocando Jesus e Maria. Confirmou as questões espirituais que eu trazia e acrescentou outras. Senti-me aliviada. O benzedeiro era idoso, retornei a ele uma segunda vez e logo após ele faleceu.

Deus havia colocado e retirado de mim uma pessoa que eu tinha como um auxiliar poderoso na libertação do maligno em minha vida. Meu primeiro impulso foi pensar em procurar outro, mas o sinal de Deus era óbvio demais: não era para eu contar com a ajuda de nenhum outro que não fosse os Céus; eu deveria seguir investindo nas orações e no suporte celeste com toda minha confiança.

Sem outra opção e ainda insegura e receosa, entrava em oração várias vezes ao longo do dia.

Quanto bem isto me trouxe! Quanta fidelização ao Alto, proteção espiritual, graças recebidas e crescimento na fé.

 

Vida de oração

Seguia na devoção e serviço a Cristo. Quanta alegria e satisfação encontrava nesta nova forma de viver meus dias. Como era especial viver servindo ao Senhor dentro e fora de casa. Sentia-me preenchida espiritualmente. Como era belo vê-lo usando a mim como instrumento na vida dos demais.

Numa manhã enquanto lavava os pratos louvando o Senhor vieram-me à mente as palavras “vida de oração”. Achei interessante, bonito, agradeci. No dicionário seu significado se encaixava perfeitamente nos meus ideais e na forma como vinha vivendo meus dias.

Dado que me dispunha a servir fielmente e caminhar com Jesus era lógico que incorporasse uma forma de viver que me proporcionasse proteção espiritual contra os ataques do maligno, o que somente se tornaria possível por meio de uma vida de oração.

Nesta etapa já sabia, até por experiência própria, que quanto mais uma pessoa se dispusesse a servir a Deus na vida dos demais, mais incomodaria satanás e mais ele tentaria atacar e derrubar, tirando-a do caminho. Era o caso dos sacerdotes, por exemplo, seus alvos prediletos.

Mas Deus me conduzira de tal forma que já não tinha medo de satanás.

Compreendi que todo aquele que estivesse realmente disposto a trabalhar para Jesus teria que (tal como ele fez com seus apóstolos e santos) lutar contra satanás de olhos bem abertos e continuadamente como numa luta aberta e sempre vigilante.

Notei o crescimento que já havia alcançado pela condução de Jesus:

Ele havia me capacitado a não temer o maligno (para que o medo não paralisasse minha marcha) e a manter uma conexão mais permanente com o Alto com plena confiança no seu amparo por meio da oração e da fidelização.

Dito isto foi muito importante descobrir a respeito de uma vida de oração e a chance de incorporá-la conscientemente nos meus dias.

***

A vida de oração se tornou um modo de estreitar meu relacionamento com Deus, de colocar-me diante dele e com ele em todas as coisas que fazia tendo-o como uma presença real e íntima a quem podia falar em qualquer parte do dia, agradecer, louvar, adorar, oferecer o que fazia, pedir, suplicar, desculpar-me e conversar. Convidava Deus a viver meus sentimentos e pensamentos comigo em íntima comunhão. Passei a pensar, falar e agir diante dele. Entrava naturalmente em oração sempre que elevava meus pensamentos às suas coisas em tudo que fazia.

Este modo de viver se tornou possível quando realizado em conjunto com outras disciplinas cristãs diárias como a leitura da Bíblia e o diário espiritual, a oração do Terço, reflexões cristãs e seleção de conversas, pessoas e ambientes.

Pelo fato de o esposo ser ateu e de eu sentir que não deveria melindrar nosso relacionamento muito menos malograr o meu processo interior, não consegui ir semanalmente à missa e receber a eucaristia. Entregava esta questão para Deus e seria no seu tempo.

Compreendia que Jesus valorizava os esforços e sacrifícios dentro da realidade de cada um.

 

Vigiai e orai

Neste estado mental de comunhão com Deus notei ser natural que os ataques do maligno se reduzissem. E quando aconteciam conseguia enxergá-los em tempo real e defender-me.

Assim descobri que ao manter na maior parte do tempo minha mente em Deus, estava na maior parte deste tempo atenta aos pensamentos que passavam na minha mente. Ficou mais fácil defender-me da invasão dos negativos. Não seria este o vigiai e orai ao qual se referia o Senhor? Não seria este o estado ideal da mente que deveria ser perseguido, pois tornava possível caminhar junto a ele?

 “Vigiai, pois, em todo o tempo, orando, para que sejais havidos por dignos de evitar todas estas coisas que hão de acontecer, e de estar em pé diante do Filho do Homem.” (Lucas 21, 36).

Vigiai e orai, para não cairdes em tentação. O espírito, com certeza, está preparado, mas a carne é fraca.” (Mateus 26, 41)

 

A oração também tem poder

Quanto à influência que o satânico exerce em nossa vida cotidiana mediante nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos compreendi que:

Caso não sejamos vigilantes nas orações (como acontece com a maioria das pessoas) nos tornamos passíveis de sermos conduzidos por eles tal como marionetes e eles sempre visam a destruição e o separatismo. Logo, em todo e qualquer ambiente onde houver a destruição e o separatismo, lá estarão agindo forças do mal por meio das pessoas.

Aprendi que as verdadeiras lutas são sempre contra estas forças invisíveis do mal e não exatamente contra as pessoas que estão diante de nós. Por isto devemos recorrer à oração. Pouquíssimas pessoas sabem disto e a põem em prática. Por isto que o mal se encontra disseminado de forma avassaladora por todos os lados. Satanás se encontra livre e solto fazendo o que quer por meio das pessoas sem que elas saibam ao seu respeito.

Dou testemunho disto em minha vida conjugal: a enorme diferença no relacionamento sem e com oração, ou seja, antes, quando éramos ambos joguetes das forças malignas e depois desta minha aproximação consciente a Deus.

***

Aprendi também que há problemas na minha vida e na do próximo que, apesar de todos meus esforços para resolvê-los, não consigo. Nada sai do lugar, pois o problema envolve terceiros e aspectos que se encontram além do meu alcance. Compreendi que eram especialmente para estes que deveria orar e pedir auxílio aos Céus. Porque somente eles têm alcance a tudo e a todas as pessoas incluindo o poder de agir dentro de cada coração e mente transformando-os para melhor.

Aprendi em oração a apresentar, entregar e confiar as pessoas as quais intercedia a Jesus e a Maria e a aguardar. Então via-os operando maravilhas dentro das mesmas. Algo belíssimo de se ver.

Uma vez respeitadas a vontade e o tempo de Deus, podia contar com as valorosas intercessões e misericórdia.

A oração tem sim poder e faz a diferença.

 

Ajustando o que peço e como peço

É importante ajustar o conteúdo que se pede em oração.

Compreendido que todas as dificuldades que se vive - tanto as ocasionadas pelos próprios erros quanto aquelas a nós impostas por Deus - têm como objetivo o aprimoramento pessoal, que sejamos sensatos e justos pedindo-lhes paciência, tolerância, resistência, resignação, fortaleza, obediência, humildade, bondade e amor para tudo suportar e nos transformarmos. Nem sempre será tarefa fácil, mas tão pouco impossível quando o parceiro é Deus.

***

Na minha trajetória de oração aprendi a orar com o coração. Entendi que se o coração não estiver presente a oração não tem valia. Ademais, a mente tem que estar consciente acompanhando palavra pós palavra e sentimento pós sentimento senão, da mesma forma, não tem valia.

Portanto era só permitir que as palavras brotassem espontaneamente do coração com pureza de intenção, sinceridade e sentimento. Não precisavam ser muitas palavras, apenas as suficientes. E imaginar aquele a quem endereçava a oração à minha frente.

Eis a forma na qual aprendi a conectar-me com os Céus.

 

Ajudando os Céus a me ajudar

Nas situações em que não encontrava em mim virtudes necessárias para transpô-las, aprendi que não adiantava apenas rogar ajuda aos Céus e aguardar que miraculosamente resolvessem a situação para mim enquanto da minha parte mantinha-me numa posição passiva e tomada por sentimentos inapropriados.

Agindo desta forma acabava dificultando ainda mais os Céus a me ajudar.

Deveria, ao contrário, ajudar os Céus a me ajudar o que requereria de minha parte iniciar alguma ação que já me era possível para sair daquela posição e dar passos no sentido daquilo que desejava alcançar.

 

Persistindo na oração

Jesus também nos ensinou sobre o valor da persistência na oração por meio da parábola da viúva e do juiz:

Uma viúva pedia com insistência ao juiz que olhasse para sua causa e lhe fizesse justiça e este sempre lhe negava, até que em determinado momento decidiu atendê-la para que parasse de incomodá-lo.

 “Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu digo a vocês: Ele lhes fará justiça e depressa.” (Lucas 18: 1-8)

***

A mensagem que desejo por fim deixar é que eles estão nos Céus, são misericordiosíssimos e encontram-se à disposição para nos ajudar.

O que devemos fazer então?

Ajoelhar e pedir, mas com justiça e sensatez.

 

Oração para todos nós

Que nosso querido Pai Celestial que nos conhece em nossos recônditos mais profundos conceda-nos as graças necessárias para bem caminharmos nesta Terra, fazendo o melhor uso possível de tudo aquilo por ele oferecido.

Que tenhamos sabedoria para voltarmos nossos olhares para Deus e enxergar sua grandeza e bondade derramadas sobre tudo o que acontece em nossas vidas.

Que tenhamos maturidade para enfrentar as dificuldades e lutar com dignidade diante do Senhor.

Que Jesus Cristo continue derramando suas benção e misericórdias abundantemente em nossas vidas hoje e sempre.

Que a graça de Deus Pai toque especialmente cada um que ler estas páginas e que cada um se sinta acolhido pelo seu imenso amor, erguendo-se e caminhando para sua obra, pois é a única que se fixará por toda a eternidade.

E que o Deus Todo Poderoso realize uma verdadeira obra dentro de cada um para sua própria honra e glória para todo o sempre.

Amém.

A depressão, o transtorno de ansiedade e este livro

Cheguei a finalizar o livro, fiz poucas cópias, entreguei a uma amiga com o intuito de receber dela uma primeira impressão. Retive as demais comigo, mas disse a Jesus que elas estavam à sua disposição caso fosse do seu desejo que alguém as lesse ainda que naquele primeiro momento.

Ele trouxe duas pessoas que sofriam de depressão. Impossível eu não me sensibilizar, pois havia sofrido no pós-parto do meu segundo filho de uma combinação de depressão com transtorno de ansiedade.

O livro tocou-as profundamente e senti no meu coração que Jesus queria que acrescentasse ao mesmo este conteúdo.

Primeiramente porque ambos acometem um grandíssimo número de pessoas e estão em franca expansão no mundo todo*.

Em segundo e mais importante deve-se ao fato de que antes da origem da doença ser psicológica ou neurológica, é espiritual. Jesus quis que as abordássemos para que muitas pessoas pudessem abrir os olhos para a interface espiritual e para o caminho da verdadeira cura.

Deus permitiu que eu vivesse ambas por um período relativamente curto, de cinco meses, mas de forma intensa.

Opressão no peito, vazio existencial, sentimento de angústia e autodestruição e de desfazer do meu bebê dando-o para alguém, apatia e desinteresse total pela vida acompanhados de medo exagerado e ilógico das coisas mais simples, taquicardia, dor no peito, respiração ofegante e falta de ar. Na fase mais crítica fiquei uma semana sem conseguir fechar os olhos ao longo da noite – ainda que à base de remédio para insônia. Um verdadeiro martírio. Uma sensação de morte me acompanhava, pois perdera total controle sobre meu corpo e sobre minhas respostas emocionais. Nas depressões vividas nos primeiros pós-operatórios da cabeça recordo-me de ter tido pensamentos suicidas.

Deus me permitiu sofrer suficientemente para que experimentasse a dor dessas duas condições e depois me compadecesse dos que delas sofrem e pudesse acolhê-los, oferecendo o que pude aprender.

Nota:

* Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2015 a depressão afetava 322 milhões de pessoas no mundo sendo 11,5 milhões de brasileiros (8%) e os transtornos de ansiedade 264 milhões sendo 18,6 milhões de brasileiros.

***

Em seu plano perfeito para mim, enquanto sofria de ambos transtornos, Deus me trouxe, na época, uma fiel serva para ajudar-me com as crianças e a casa. Mas ela ajudou-me muito além disto. Testemunhava a fé em Deus e em Cristo e o quanto este havia mudado sua vida, além de como era caminhar com ele. Me evangelizava, orava por mim e eu comprovava os efeitos benfazejos de suas orações sobre meu ânimo e sobre minhas questões pessoais e familiares. Ensinou-me tanto com o exemplo e me acolheu emocionalmente e livre de julgamento.

Poucos meses depois já liberta de ambos transtornos internaria para dar continuidade ao processo da cabeça, resoluta em buscar a Deus como única saída para minha situação. 

 

As portas de entrada aos processos mentais e a libertação que vem de Deus

A pessoa entrou em firme oração pela minha cura e libertação da depressão e do transtorno de ansiedade, perseverando por todo o período necessário até que Deus permitiu que eu fosse libertada.

Mas como assim, libertada?

Libertada das teias do maligno, dos espíritos impuros que trabalhavam para a minha autodestruição e morte.

Eles haviam conseguido aprisionar-me, pois haviam encontrado uma brecha espiritual que me deixava desprotegida. Eu não orava, ainda que vivesse cultivando propósitos elevados e conectados a Deus - postura que considerava suficiente e que me resguardaria de todo o mal. Ledo engano.

Deus permitiu que eu fosse “vítima” para que crescesse espiritualmente, agregasse algo a mais que antes não possuía, o que penso ser o caso de outras pessoas também acometidas. Creio não ser coincidência o fato das pessoas, de modo geral e no mundo todo, nunca haverem estado tão afastadas de Deus quanto nos tempos presentes. E ele sempre tem meios para fazer cumprir seus planos para cada um.

O que compreendi é que todo aquele que sofre de depressão e de transtornos de ansiedade se encontra desprotegido espiritualmente e a verdadeira batalha a ser travada é espiritual sendo a oração uma ferramenta poderosíssima para ajudar a ganhá-la. Mas a busca e o encontro com Deus de uma forma mais profunda em uma vida vivida verdadeiramente nele é o que propicia a cura efetiva e a vitória definitiva.

Segundo o Padre Marcelo Rossi, ele considerava a depressão “bobeira” até que Deus permitiu que ele a tivesse por sete meses para experimentar o sofrimento e o crescimento em Cristo, até que fosse por Jesus libertado passando a ensinar os demais a também se libertarem. Na época ele não tomou antidepressivo por motivo de saúde e foi obrigado a se valer apenas da oração, do Rosário e da eucaristia até encontrar dentro de si um grande amor a Cristo – componentes, segundo ele que, integrados, o libertaram. Passado tudo ele diz que precisa continuar vigilante na mente e em uma vida em Deus senão a depressão o alcança novamente.

Ao final destas linhas, Jesus me fez entender que a cura para a depressão e os transtornos de ansiedade está em todo o conteúdo deste livro – que traz o renascimento e a vida nele – por isto abordá-los.

Seguiu em minha mente o seguinte pensamento:

Compreendeu, enfim, que estamos a falar de uma mesma coisa?

“Sim”. – Respondi.

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